Para traduzir a linguagem do open health é necessário compreender as camadas que forma esse sistema de troca de dados e informações, que vai da gestão à automação, analytics e chega na cultura data-driven
Nos últimos anos, o setor da saúde fez movimentos expressivos em direção à digitalização de processos, produtos e serviços, enquanto o tão sonhado sistema open health, que consiste basicamente no intercâmbio de dados e soluções entre empresas do setor, ainda é uma realidade a ser pavimentada. “Embora o open health possa se espelhar no seu irmão mais velho, o open finance, há uma variedade de particularidades que tornam a implementação do sistema de dados abertos em saúde algo complexo e desafiador.
Se com dinheiro não se brinca, imagine com a saúde de milhões de pessoas e a sustentabilidade de milhares de empresas”, diz Laís Fonseca, CEO e cofundadora da tech health QBem, que usa engenharia e inteligência de dados para gerar melhorias para o sistema de saúde. Graduada em Administração e Políticas Públicas com MBA pelo MIT Sloan, Laís afirma que existe outra adversidade: explicar ao grande público os principais conceitos do open health e seus efeitos e benefícios na prática.
“Compartilhar o léxico que forma e direciona as empresas e profissionais interessados nessa ampla digitalização e intercâmbio de informações na saúde, é uma das etapas, já que praticamente tudo começa e termina na linguagem que comunicamos aos outros. É, sem dúvida, um grande desafio que temos pela frente, ao passo que é uma boa oportunidade de mudar a visão de mercado”, explica a especialista em otimização operacional e transformação digital, com expertise em desenvolvimento de soluções para melhorar a jornada do paciente.
• Open health
Já trouxemos aqui um spoiler do que seria o open health – a medicina aberta, como vem sendo abordada a tradução do termo no Brasil. Em outras palavras, é um modelo sistêmico e estratégico que empresas públicas e privadas do setor de saúde adotam para compartilhar entre si dados e informações institucionais e de paciente, sobretudo.
As organizações, por sua vez, usam esses dados e informações para criar e melhorar produtos, serviços e atendimento aos pacientes. Todo esse material digital também é estratégico para o futuro das organizações, uma vez que elas podem tornar as informações mais ricas agregando outros dados e, assim, criando vantagem competitiva no mercado de saúde.
• Open insurance
Assim como vem ocorrendo com o open finance, que permite a troca de dados e movimentações financeiras entre clientes de bancos e fintechs, o open insurance é um sistema que permite operacionalizar e padronizar o compartilhamento de dados e serviços.
Criado pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), o objetivo da inovação é gerar um sistema aberto e seguro para que os consumidores de produtos e serviços em saúde possam compartilhar os dados entre instituições do setor.
Na prática, open insurance aumenta a concorrência entre empresas de saúde. Com acesso aos dados dos pacientes, espera-se que as instituições participantes passem a oferecer os melhores produtos e serviços aos clientes, oferecendo tarifas mais baixas e condições mais vantajosas diante de um mercado mais competitivo.
• Interoperabilidade de dados
Também chamado de intercâmbio ou troca de dados, o health interoperability, no inglês, é a ferramenta essencial utilizada para construir o open health contando com o apoio de sistemas open insurance. Basicamente consiste, além do conceito de interoperabilidade de dados, em um conjunto de softwares e outras tecnologias que tornam acessíveis para as empresas fazer o câmbio de dados e informações.
Comumente, essa troca de dados é feita de maneira estratégica entre as empresas, tendo como foco a saúde do paciente e a melhoria na qualidade de produtos, serviços e a sustentabilidade das empresas.
• PDA e Open Data
PDA e Open Data Criado para operacionalizar a política de dados abertos do Governo Federal, o Plano de Dados Abertos (PDA) é o instrumento que visa dar abertura e sustentação ao uso e compartilhamento de dados entre as organizações públicas. Cada entidade atrelada ao Poder Executivo Federal tem a obrigação de elaborar um plano de dados abertos (open data). Na esfera da saúde, o órgão responsável é a Agência Nacional de Saúde (ANS).
Oito princípios norteiam o desenvolvimento do ecossistema aberto de dados e informações da ANS. Assim, segundo a Agência, os dados devem ser: 1. Completos, 2. Primários — com o maior nível de granularidade e sem agregação ou modificação —, 3. Atuais, 4. Acessíveis, 5. Processáveis de maneira automatizada por computadores, 6. Não discriminatórios — neste sentido, disponíveis para todos —, 7. Não-proprietários e 8. Livres de licença. Em outras palavras, devem ser livres de direito autoral, patente, propriedade intelectual ou segredo industrial.
• Data Lake
Para que uma empresa faça a interoperabilidade de seus dados com outras organizações é fundamental contar com um repositório de dados. Nisso consiste o data lake, uma espécie de silo digital que armazena um grande e variado volume de dados. Esses dados são capturados por meio de diversas fontes de informações, desde um prontuário digital até uma interação em rede social.
Neste tipo de repositório, podemos encontrar dados estruturados, semiestruturados ou nada estruturados (que ainda não foram processados e analisados). Um data lake é empregado, em síntese, para a governança no armazenamento de dados brutos, tendo como finalidade usar esses dados no presente ou no futuro.
• Data-driven
Normalmente vinculado com o termo cultura data-driven, pode ser traduzido na prática de orientar a gestão da empresa, no presente e no futuro, por meio dos dados. Assim, das decisões mais estratégicas da empresa até as principais rotinas de trabalho são baseadas em datificação, ou seja nas informações concretas e analisadas.
Exercer uma gestão data-driven exige não só contar com ferramentas de data lake e de análise de dados, como também tornar as rotinas e as decisões baseadas em dados como um modelo de cultura contínua e de preferência permanente. Assim, gestão, a produtividade, produtos, serviços e ações devem ser orientadas pelos dados coletados e analisados.
• Analytics
Por falar em análise de dados, não há como falar em open health sem citar a capacidade que os analytics têm ao entregar informações estratégicas, e de preferências específicas, na hora de executar a interoperabilidade de dados. Basicamente, dentro das empresas, o uso de analytics ajudam a entender a trajetória, a essencial e qualidade dos dados, e de como os dados podem ser utilizados em benefício das empresas.
Para fora, no mercado de interoperabilidade em saúde, os analytics são ferramentas que demonstram expertise tecnológica e competitividade na hora de negociar troca de informações, uma vez que esses dados foram estudados e normalmente são utilizados para uma finalidade em específico.
Para aplicar uma cultura de analytics nas empresas de saúde é preciso ir além do investimento em tecnologia de coleta e análise de dados. O investimento em capital humano é primordial para essa tarefa. Assim, a combinação homem-máquina na leitura analítica de dados simboliza como será o futuro do setor para os próximos anos, uma vez que esse processo ainda está em formação.
• Health smart
Trata-se não só de uma ferramenta, mas de um conjunto de soluções tecnológicas que são aplicadas ao longo do processo de armazenamento, análise e uso de dados na interoperabilidade do open health. Essas soluções digitais têm como base a aplicação de inteligência artificial na melhor combinação autômatos com machine learning (aprendizado de máquina), deep learning (aprendizado profundo de máquina) e PLN (programação de linguagem natural).
Não devemos restringir o investimento em inteligência em saúde à automação de processos de armazenamento, análise e uso de dados. Posto de outro modo, ao falar de health smart não abordamos somente a aplicação de recursos financeiros em tecnologia, mas também no investimento em profissionais qualificados para avaliar o potencial dessas soluções inteligentes e trabalhar com elas na melhor entrega de serviços, produtos e atendimento aos pacientes.
• Tech health
É uma empresa ou startup que atua principalmente com entrega de tecnologias que habilitam às instituições de saúde a solucionar problemas complexos, dentre eles a integração de dados para habilitar insights e inteligências para as empresas, tanto na tomada de decisões quanto para as soluções em saúde. O core business é a entrega de tecnologia e engenharia de dados e, a partir disso, simplifica-se as soluções em saúde. No escopo está a criação de repositório de dados, interoperável, que gera informações analíticas e estruturadas para qualificar as empresas, produtos, serviços e operações na área.