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Mudança de comportamento de consumo impulsiona marcas próprias no Brasil

em Destaques
quinta-feira, 05 de outubro de 2023

Dados da Kantar mostram que, no primeiro trimestre de 2023, a participação das marcas próprias já é 50% maior do que em 2021

O consumo no Brasil decolou em 2023, com um aumento de 9,8%. Dados da Kantar, único painel de mercado que acompanha o comportamento do consumidor em tempo real, mostram que o consumo dentro do lar atingiu o maior índice histórico, enquanto o fora voltou a crescer como em patamares pré-pandêmicos. No estudo, alguns pontos foram percebidos, como a busca de brasileiros por mais marcas, sejam elas premium ou econômicas. Porém, de acordo com o Consumer Strategy da Kantar WorldPanel, Rafael Kroger Couto, o consumo não se resume apenas em preços e, neste sentido, as marcas próprias ganham espaço.

O assunto foi pauta no PL Connection, evento focado em Private Label. Na América Latina, por exemplo, a participação da categoria é de 16%, com destaque de crescimento para a cesta de Higiene e Beleza. “No primeiro trimestre de 2023, percebemos um aumento de 50% das marcas próprias, se comparado ao primeiro trimestre de 2021. Apesar do crescimento, ainda há um longo caminho de oportunidades para as marcas próprias”, explica.

Antônio Sá, sócio-fundador da Amicci, empresa de gestão e desenvolvimento de marcas próprias, relembra que hoje a estratégia representa apenas 5% da compra de FMCG (Fast-Moving Consumer Goods, produtos de giro rápido), enquanto na Europa representa 41%. “Quando falamos de Brasil, uma pesquisa da NielsenIQ apontou que produtos exclusivos já estão presentes em 34% dos lares e acredito que muito disso esteja ligado à questão econômica, visto que os gastos com alimentação representam mais da metade de um salário mínimo”, enfatiza.

Marcas próprias precisam ser expandidas

Atualmente, o foco das marcas próprias são em categorias básicas, com grande desenvolvimento em commodities. No entanto, há oportunidade em outras cestas, como bebidas e perecíveis. Couto também destaca a necessidade de expandir regionalmente, já que há alta concentração no Sudeste, especialmente na Grande São Paulo e Interior, enquanto Norte e Nordeste se mostram subdesenvolvidas na alternativa.

“O estudo da Kantar também identificou que há preferência dos varejistas por desenvolver produtos para pessoas com mais de 50 anos, enquanto os demais grupos mostram-se pouco desenvolvidos”, destaca o especialista.

Tendências de marcas próprias

Para Sá, o país passa por uma crescente busca por itens de qualidade a valores acessíveis, tanto é que uma em cada três famílias brasileiras preferem produtos de portfólio exclusivo, segundo a NielsenIQ. Ao encontro disso, varejistas, indústrias e distribuidores estão apostando nas marcas próprias. E aquelas que querem continuar ganhando espaço frente às marcas líderes devem estar atentas às tendências mundiais.

“Houve crescimento das linhas de produtos premium, que prezam pela alta qualidade dos ingredientes. Outros itens bem explorados na feira foram as linhas de bem-estar e saudabilidade. Produtos orgânicos e locais (com especificação de determinada origem) também estão sendo valorizados”, explica Sá.

Os produtos sazonais, ou seja, aqueles desenvolvidos com base em datas específicas, como Halloween, também ganharam destaque e, na Europa, já são muito populares. “Nessa estratégia, é importante entender os hábitos de consumo e adaptar. Em época de Festa Junina, por exemplo, podem ser desenvolvidos itens diferentes com alimentos que lembram a data”, aconselha.

Por fim, Sá destaca que o Brasil dispõe de um parque fabril muito qualificado e uma liderança no varejo e distribuição que está valorizando muito mais o diferencial competitivo de desenvolver as suas próprias marcas para fidelizar clientes e aumentar a rentabilidade da empresa. Considerando que a média global de participação das vendas das marcas próprias no mundo é de 23,1%, segundo a NielsenIQ, o Brasil tem um espaço gigante para crescer e atingir essa média – o que seria crescer a participação atual em quase cinco vezes. Bom para varejistas, indústrias e, sobretudo, para o consumidor.