Renato Nobile (*)
A tecnologia é um dos setores mais dinâmicos e inovadores da economia mundial. As empresas que atuam nesse segmento estão sempre buscando novas soluções para os problemas e desafios da sociedade e, não à toa, vêm transformando a maneira como interagimos com o mundo nas últimas décadas.
Após grande alta do setor gerada pelos movimentos durante a pandemia, tanto as grandes empresas ligadas à tecnologia quanto o mercado de Venture Capital (VC) passaram por uma forte retração em 2022. Isso se deu pela incerteza causada por diversos fatores que passam pelo controle da inflação global, pela guerra da Ucrânia, pelo risco da volta do isolamento social e o mais acelerado aperto monetário da história. Esses fatores afetaram negativamente a maioria dos setores, com exceção de alguns como healthcare, que se mantiveram resilientes.
No primeiro semestre de 2023, no entanto, houve uma mudança de cenário, com uma recuperação das bolsas de valores ao redor do mundo, com Ibovespa apresentando uma alta de 7,61% e Nasdaq surpreendendo com 31,30%. O sentimento otimista com a situação global, junto aos indícios de que o quadro inflacionário está mais controlado, trouxe um fluxo maior para investimentos ligados à tecnologia e, também, ligeiramente, ao VC. No caso da Nasdaq e de algumas empresas como a NVIDIA, um fator que não pode ser desconsiderado foi o lançamento do ChatGPT, que atraiu grandes investimentos para empresas ligadas à IA.
No entanto, para nós, essa alta de mercado não significa que está vindo uma correção (queda) pela frente. Ativos ligados a outras tecnologias ainda têm um bom espaço para crescer e entregar bons retornos, já que muitas empresas não acompanharam a alta dos preços e se mantiveram com múltiplos em patamares bem abaixo da sua média histórica.
Levando em consideração uma pesquisa da Analytics Insight que aponta que, até 2025, 80% das empresas adotarão automação inteligente bem como outros dados favoráveis à adoção em massa de diversas tecnologias que hoje ainda são pouco presentes, notamos cada vez mais a instalação de processos de negócios de ponta a ponta em um ambiente digital. Dito isso, não vemos esse movimento como uma “bolha”, mas sim como uma aplicação real, com bastante fundamento e com poder de transformar ainda mais muitas cadeias produtivas.
No mundo de blockchain, que está passando por uma grande mudança em sua adoção, vemos avanços regulatórios e a presença de gigantes como BlackRock, Fidelity e outras mostrando interesse em protocolar produtos e serviços ligados a criptoativos, o que tende a resultar na retomada do setor.
Para o cenário brasileiro, ressaltamos informações do Emerging Tech Report 2023 – levantamento elaborado pelo Distrito sobre o impacto de emerging techs em grandes corporações e startups do Brasil. Segundo o estudo, os deals assinados com startups que fornecem tecnologias emergentes no País foram maiores em 2022 do que em 2021. Esse cenário é muito benéfico para o nosso país, já que o mercado brasileiro é amplo e o consumidor carrega consigo uma característica de ser early adopter, que demanda por soluções inovadoras.
Por fim, observamos o segundo semestre de 2023 com otimismo, mesmo que de forma cautelosa. Desde janeiro deste ano, as empresas de tecnologia enxergam uma melhoria nos resultados acima do esperado, já que vêm trabalhando para melhorar suas margens e deficiências. Por isso, entendemos que é possível ter um ano recorde de resultado para as principais companhias e setores que investimos, tanto em nossos fundos de investimento quanto em nossa operação de Venture Capital.
(*) É sócio e gestor da Buena Vista Capital, gestora de fundos abertos 100% focada em inovação e Venture Capital (VC).