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Não há crescimento econômico sem saúde mental

em Sem categoria
domingo, 06 de agosto de 2023

Dr. Arthur Guerra (*)

Recentemente, estive em Nova York e fui convidado para ir a um evento do Banco Master Conference, que fez parte da 4ª edição do Brazilian Week. Tive o privilégio de ouvir grandes nomes da economia brasileira, como Daniel Maeda (CVM), Gustavo Loyola (Tendências Consultoria e ex-presidente do Banco Central), Jorge Lima (secretário estadual de Desenvolvimento de SP) e Paulo Gala (Banco Master), que juntos debateram assuntos sobre inovação, negócios, impasses políticos e ESG.

Eventos dessa magnitude são extremamente importantes, pois ampliam e aprimoram a concepção de que o crescimento econômico está diretamente relacionado à saúde mental. Estes temas costumam ser abordados isoladamente; porém, uma nova perspectiva de integração se faz necessária para fortalecer todas as esferas sociais, como educação, redução da violência, pobreza e desigualdade de gênero. São assuntos intimamente ligados ao crescimento econômico.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que 264 milhões de pessoas sofrem de depressão e ansiedade em todo o mundo. Isso resulta em uma perda de US$ 1 trilhão na economia mundial todos os anos. Outro levantamento divulgado pela ISMA-BR (International Stress Management Association) revelou que, no Brasil, nos últimos dez anos, o estresse e outros sintomas de esgotamento emocional foram responsáveis por um aumento de 140% nos gastos trabalhistas. Corroborando com este cenário, um estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais mostrou que questões de saúde mental provocam uma perda no faturamento de R$ 397,2 bilhões anuais para as empresas.

Atualmente, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda projeta um crescimento de 1,9% do PIB para este ano de 2023. No entanto, para que as empresas contribuam positivamente para esse crescimento, é indispensável investimentos na promoção do bem-estar físico, mental e social. Os números apresentados são alarmantes e deixam claro o fato de que quanto mais saudáveis, mais positivos e integrados conseguimos ser. Como resultado, somos mais produtivos. Isso se reflete no desenvolvimento profissional e no sucesso e sustentabilidade da empresa em que atuamos.

Uma pesquisa, desenvolvida pela Health Enhancement Research Organization, revelou que os colaboradores que possuem boas condições de saúde mental apresentam 25% a mais de desempenho quando comparado ao restante da equipe. Pode ser delicado conduzir este assunto no contexto profissional, no qual as relações ganham outros contornos e os níveis de intimidade entre as pessoas são menores.

Como especialistas de áreas diferentes, porém com visões complementares, recomendamos que as empresas invistam em ações de saúde mental para que haja um aprimoramento da sensibilidade das lideranças e gestores para identificar quando alguém está precisando de suporte, bem como a capacitação destas pessoas para que tenham conhecimento das recomendações de como orientar um colega ou colaborador na busca por ajuda.

O investimento em programas de saúde mental pode gerar um retorno muito positivo financeiramente. Isso é nítido, mas também demonstrado em uma pesquisa da Harvard Business Review, que apontou que o ROI (retorno sobre o investimento) da saúde mental dentro das empresas é de R$ 3,68 para toda a equipe e de R$ 6,30 para os gestores. Isso significa que, para cada R$ 1,00 investido em programas de saúde mental, a empresa deve obter um retorno financeiro de R$ 3,68.

Embora o tema da saúde mental não seja novo, é preciso ampliar as discussões sobre o assunto para que realmente tenham a proporção e importância devidas. Estas questões não devem ser tratadas apenas temporariamente, pois são parte da condição humana. A atenção à saúde mental é um investimento em pessoas, no negócio e na sociedade.

(*) É psiquiatra e cofundador da Caliandra Saúde Mental, empresa especializada em soluções de cuidados à saúde mental e treinamento de liderança