Heródoto Barbeiro (*)
Esquecer o passado e olhar para o futuro. Este é o mote que move a diplomacia brasileira na cerimônia de coroação planejada pelo governo britânico.
Um ou outro crítico, geralmente professor de História, diz que isso é se submeter aos caprichos de uma nação imperialista que, por diversas vezes, ameaçou o Brasil com sua marinha de guerra. Houve até mesmo momento em que as relações diplomáticas entre os dois países foram rompidas, aparentemente pelo espancamento de soldados ingleses na capital do Império brasileiro.
Um caso de polícia que virou um atrito internacional entre Reino Unido e Brasil. Por trás estava o bloqueio britânico no Atlântico Sul aos barcos que faziam tráfico de escravos. Ao capitalismo britânico, já na fase da segunda fase da Revolução Industrial, interessava muito mais a mão de obra assalariada.
Além disso, o açúcar brasileiro concorria com o produzido nas colônias inglesas das Antilhas e isso os magnatas do comércio internacional não iriam admitir. Mas, enfim, como dizem os editoriais dos jornais, o que passou, passou. O que se espera no espetáculo da coroação é a presença da bandeira brasileira.
Os ingleses pagadores de impostos não reclamam dos altos custos das cerimônias, o fechamento das avenidas de Londres e o pagamento de um batalhão de soldados, cavalos, carruagens, e funcionários de todo tipo.
É um momento solene e, graças à televisão, vai se tornar um espetáculo global com bilhões de expectadores acompanhando as imagens dos desfiles, a presença de altos dignitários mundiais, as roupas tradicionais da velha Monarquia inglesa e hinos cantados por corais de muitas vozes, apoiados pelo rufar da banda militar, na avenida que dá acesso do Palácio de Buckingham a Abadia de Westminster, e pelo órgão medieval da igreja também medieval.
A festa tem o gosto do canto do cisne para o Império britânico. Ainda assim, presentes os representantes e líderes religiosos da Commonwealth, 56 países que fazem ou fizeram parte do Império britânico no passado. O presidente do Brasil está em confronto direto com o Congresso Nacional. Especula-se que neste momento não deve se ausentar do país para participar de uma coroação do outro lado do Atlântico.
Após um ano da morte do rei, a nova sucessora do trono é coroada, na primeira cerimônia desse tipo televisionada. Elizabeth II, em plena Guerra Fria, é aclamada rainha. O Brasil opta por enviar como representante o senador Assis Chateaubriand, dono do maior conglomerado de mídia do país.
Na festa em Londres, ele se encontra com uma multidão de personalidades, entre elas Winston Churchill, primeiro-ministro durante a Segunda Guerra mundial, responsável pela resistência contra a Alemanha nazista de Adolf Hitler, e Nehru, um dos líderes da independência da Índia, considerada a pérola do Império britânico.
Chateaubriand é portador de um jogo de joias brasileiras com pedras de águas-marinhas. Inicia-se uma nova etapa da Monarquia e ninguém sabe se a nova ocupante do trono vai ficar muito tempo nele, uma vez que há um forte movimento para a proclamação da República e mandar a monarquia para um museu em Londres. O tempo dirá.
(*) – É professor, jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como nas áreas de jornalismo, mídia training e budismo. Palestras e Midia Training (www.herodoto.com.br).