Heródoto Barbeiro (*)
O debate está intenso nas redes sociais. Não é a primeira vez que sites especializados em fiscalizar funcionários públicos levantam suspeitas sobre conflitos e interesse.
Desta vez o caso é mais polêmico uma vez que envolve um ministro da Suprema Corte. Pode um funcionário do Estado receber presentes de qualquer espécie? Isso pode ou não ser considerado um desvio ético a ponto de a conduta colocar sob suspeita as decisões tomadas pelo magistrado?
O que distingue um presente simbólico de uma oferta milionária?
Os cidadãos tomam conhecimento da reportagem investigativa publicada na internet e se posicionam imediatamente. Uns relevam o caso, outros querem que a investigação se aprofunde e chegue a outros níveis do Poder Judiciário.
Tudo o que o país não precisava neste momento é uma polêmica que desvie a atenção da opinião pública dos problemas nacionais mais urgentes, como inflação, juros altos e o comércio com a China.
Advogados querem apresentar um pedido de impeachment do ministro. Ninguém está a salvo da aplicação da lei, não importa o grau de hierarquia que ocupe na estrutura estatal. Isso aumenta ainda mais a polêmica com acusações que a motivação para a cassação do mandato é de ordem política, não ética.
Conservadores e progressistas debatem os casos em que o juiz atuou e seus votos nas questões polêmicas que mobilizam a opinião pública nacional. Afinal, afastar um ministro da Suprema Corte é um caso gravíssimo, que coloca em debate até mesmo questões constitucionais, como a democracia e a separação dos poderes da República.
Com o advento das redes sociais, casos como esse, que ficavam restritos às publicações especializadas da Justiça, ganham um alcance muito maior. Qualquer cidadão tem o direito de opinar sobre a conduta do Judiciário, apoiar ou criticar, de acordo com a tradição e a Constituição do país. Dos sites pessoais para a grande mídia é apenas um passo. Até a BBC dá espaço para o caso.
O ministro da Suprema Corte rebate que não violou nenhuma regra ao aceitar viagens luxuosas oferecidas pelo bilionário. Estranha que só agora isso seja divulgado, uma vez que vem usufruindo desses presentes há, pelo menos, duas décadas. Clarence Thomas, juiz da Suprema Corte norte-americana confirmou que tem aceito convites de Harlan Crow. As viagens anuais oferecidas incluem passagens pelo luxuoso iate do bilionário e também voos em seu jato particular.
Todo verão o juiz passa pelo menos uma semana no resort das montanhas Adirondack. Uma viagem do casal da Suprema Corte dos Estados Unidos para a Indonésia custou a bagatela de R$ 1.500.000,00.
Thomas se defende da publicação de sites especializados em fiscalizar os funcionários do Tio Sam com o argumento de que conversou com seus colegas da Suprema Corte e eles disseram que esse tipo de hospitalidade de amigos pessoais não tem nenhum conflito de ordem ética.
Conclui dizendo que o Crow e sua esposa Kathy estão entre seus melhores amigos, uma amizade que dura mais de 15 anos. Em tempo: a tradução de Crow é Corvo.
(*) – É professor, jornalista do R7, Record News e Nova Brasil, autor nas áreas de jornalismo, mídia training e budismo. Gestor da reserva ambiental Mahayana. Palestras e Midia Training (www.herodoto.com.br).