Leila Santos (*)
De acordo com Alvin Toffler: “Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não podem ler e escrever, e sim aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender”.
Está cada vez mais evidente que sem essas habilidades não há como sobreviver em meio a tanta volatilidade. Nosso prazo de validade está cada vez mais curto. Sem flexibilidade, simplesmente quebramos! Confesso que tenho um pouco de resistência para lidar com o termo desaprender e isso está totalmente relacionado com meu estilo comportamental e valores.
Sabendo disso, comecei a ler várias matérias sobre este assunto e são essas reflexões que compartilho com você agora. Aliás, fica a dica: quando você perceber que está resistente, incomodado sobre algum assunto, não fuja dele; seja curioso e procure ler, pesquisar mais sobre isso em diferentes fontes de informação.
Normalmente, eu busco criar conexões com a prática, enxergar sentido e utilidade para o que está sendo proposto de novo em relação a qualquer assunto, especialmente quando se trata de novas abordagens para o desenvolvimento humano. Talvez você não seja assim e está tudo bem, mas eu, definitivamente, não sou o que chamam de “early adopter”.
A primeira questão que me intrigou foi: como podemos desaprender algo? Ou ainda, como posso ensinar alguém a desaprender? A não ser que existam danos em certos sistemas cerebrais, na prática os registros estão lá mapeados nas infinitas conexões neurais que possuímos.
No livro Liderança Tranquila, utilizando fundamentos de neurociência, David Rock nos fala que a forma como lidamos com o mundo é fruto de conexões que estão solidamente incorporadas em nosso subconsciente. Diz-nos também que é mais fácil criarmos novos hábitos do que eliminarmos hábitos antigos. Ou seja, é quase impossível desconstruir nosso sistema de conexões.
Pedir para alguém desaprender é o mesmo que pedir para essa pessoa tirar do automático o que já existe, desconstruindo suas conexões. Se queremos mudar o desempenho de outras pessoas, certamente não conseguiremos bons resultados insistindo em buscar o que há de errado na forma como ela pensa e resolve os problemas.
Não adianta dizer para ela esquecer tudo o que aprendeu e fez até agora e adotar aquilo que achamos que é o certo. Precisamos de uma nova abordagem para a qual a maioria de nós não está capacitado: aperfeiçoar o pensamento das pessoas. Não existe transfusão ou meio de implantar os seus pensamentos (ou verdades) na mente de uma pessoa e esperar que isso funcione.
Ela própria precisa criar suas novas conexões, caso contrário continuará sempre voltando ao seu antigo modus operandi, aquele para o qual seu cérebro está programado para economizar energia. Desaprender é, então, a capacidade de deixar para trás a sua antiga abordagem, substituindo-a por uma mais recente e mais adequada ao novo contexto, e que faça parte das novas conexões que você mesmo criou a partir de estímulos internos e externos.
Portanto, desaprender não é esquecer!
A visão de mundo e crenças de cada pessoa está diretamente ligada ao nível de esforço necessário para que ela possa reavaliar, aceitar novas visões, questionar verdades e fazer novas escolhas. Cada um tem um tempo de resposta diferente e precisamos aprender a lidar com isso. Melhorar o desempenho de outras pessoas é ajudá-las na transição de um mundo de certezas para um mundo incerto, por meio de novas perguntas, aperfeiçoando o pensamento delas.
Você deve ser capaz de criar um ambiente em que as pessoas tenham mais chances de aprender com tudo e com todos, de confrontar seus próprios valores com os dos demais, de rever crenças e escolhas, de fazer perguntas mais desafiadoras, de não ter respostas para tudo.
Atenção! Suas perguntas podem ser libertadoras ou opressoras, podem criar pontes ou fechar portas. Assim sendo, avalie se a abordagem com seus liderados envolve os seguintes aspectos:
. Pensamento crítico: capacidade de questionar, observar, testar e aplicar.
. Colaboração: enxergar o seu papel no todo e, principalmente, como você completa o trabalho do outro e vice-versa.
. Comunicação: conectar pessoas e seus conhecimentos, trazer clareza, transparência e inclusão para ampliar os horizontes e as perspectivas.
. Criatividade: vencer o medo de errar, abrir-se para experimentar novas abordagens.
Quando notar que seus liderados estão atuando com autonomia, individualmente ou em grupo, pensando de forma criativa, adaptável e flexível, entendendo como planejar, construir e incluir a colaboração de colegas nas suas entregas, poderá dizer que sua abordagem está dando certo. Por que o que tem feito não está funcionando?
Sabemos que, frente às mudanças, a primeira tarefa do líder é mudar o pensamento das pessoas, porém a maioria dos líderes foi ensinada a mudar processos, e não pessoas. Aperfeiçoar o pensamento das pessoas requer novas habilidades e a primeira delas é saber que, para agir de forma comprometida, as pessoas precisam pensar por si mesmas.
Depois desta reflexão, consegui assimilar melhor como podemos “desaprender” alguma coisa nesta vida. Espero que eu tenha contribuído para “aperfeiçoar” o seu pensamento.
(*) – É Coach de líderes e empresas, atua com foco no cliente corporativo, valorizando e investindo em profissionais e empresas que já estão preparados para essa mudança de cultura e mindset (https://leilasantos.com.br/).