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Como um novo perfil de liderança tornou o mercado angustiado

em Mercado
segunda-feira, 03 de abril de 2023

Francisco Borges (*)

As discussões sobre os melhores perfis para atender as demandas das empresas do século XXI passam por temas delicados como Especialidade versus Generalismo.

O assunto foi fortemente discutido na transição do século XX para o atual, quando durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o já falecido e então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, um dos últimos especialistas em educação, implantou a criação do grau ‘Curso Superior de Tecnologia’, com duração de 2 até 3 anos e meio, uma graduação mais curta do que os Bacharelados (4 a 5 anos) e as Licenciaturas (4 anos), porém mais focado.

Ao invés de um aluno optar por um curso mais amplo e genérico, como a Administração, a escolha é por uma graduação em uma sub-área do conhecimento, como Recursos Humanos, Logística e Marketing, atendendo um perfil de aluno que já sabe onde quer trabalhar. E, de forma mais rápida e focada, prepara talentos para os mercados específicos.

A retomada da discussão voltada para o Generalismo de conhecimento passa por um outro posicionamento, não só da escolha do tipo de curso. Se o mercado deseja hoje um profissional graduado ou formado em cursos livres, que trazem um saber prático, mas focam na solução de problemas apenas no nível de habilidades, aplicar o saber prático para problemas básicos e menos abrangentes parece inviável.

Simplificação da formação é sempre um problema quando possíveis situações do dia a dia corporativo não têm fato anterior conhecido. Se fizermos uma analogia com o setor do direito, quando o caso não tem jurisprudência, é uma associação de fatos conhecidos com desdobramento único e sem precedentes.

Quando isto ocorre, a inexperiência, a falta de vivência do profissional, traz um vácuo de gestão e de conhecimento que pode estimular a inovação, dado que não sabendo uma solução padrão surge um problema novo.

Na ânsia de se obter resultados e atingir metas estabelecidas, sem experiência e vivência, ocorrem desrespeitos às regras regulatórias, que vão desde a forma de contratação de mão-de-obra, visando baixar custo, até a forma de entrega dos serviços e produtos, com qualidade aquém do esperado e que gera uma experiência ruim do cliente.

Não é à toa que instrumentos como o Reclame Aqui e o PROCON estejam sendo utilizados de maneira tão intensa nos tempos atuais. É natural que os clientes em um momento de alta agilidade de comunicação conheçam mais os seus direitos, mas está claro que a entrega das empresas de produtos e serviços tem sido insuficiente pelo desrespeito a premissas básicas de negócios.

A exemplo de vários setores, formar profissionais, cidadãos plenos, toma tempo, etapas de educação e anos de aprimoramento. Se um fruto precisa de dias ou semanas para estar maduro para o consumo adequado, um profissional preparado para resolver problemas reais das corporações e atender o desejo de seus clientes também precisa.

Neste caso, a máxima “a natureza não dá saltos” é mais que verdadeira. Considerar profissionais prontos para atuar antes de sua formação completa traz situações de baixa qualidade de entrega. As empresas mais jovens, chamadas de startups, estimulam a inovação mas também a “cultura de seita”.

Os dogmas propostos pelas lideranças são tidos como verdades, pela baixa experiência e desconhecimento real do mercado, e os líderes deixam de ter liderados e passam a ter seguidores que praticam o “adotar a regra”, o não questionamento de resultados e, até em grande escala, a bajulação dos CEOs. A necessidade de se conhecer processos, regras e legislações associadas aos negócios e a vivências anteriores são essenciais.

As lideranças decorrentes de pouca formação e baixa vivência se comportam de maneira débil, com equívocos básicos e de grande impacto financeiro e na vida dos colaboradores e clientes, pois só profissionais bem formados e cientes de suas responsabilidades tem coragem de fazer isso.

O atual cenário deve ser olhado com atenção, pois o mercado acaba por responder pelos os erros de uma cultura onde vivência e experiência tem sido deixadas de lado.

(*) – É mestre em Educação e consultor da Fundação FAT em Gestão e Políticas Públicas voltadas ao Ensino.