Bruno Rondani (*)
A prática de open innovation no Brasil é marcada pelo primeiro encontro do Centro de Open Innovation Brasil, realizado em 2008.
Nesse encontro, o professor americano que cunhou o termo, Henry Chesbrough, reuniu-se com as principais autoridades, especialistas e praticantes brasileiros de inovação para falar sobre o tema, incluindo empresas líderes nacionais, como Embraer, Vale, Petrobrás, Natura e Laboratório Cristália, e as principais multinacionais líderes em inovação presentes no país, como IBM, Telefónica, 3M, entre outras.
Agora, em 2023, celebramos 15 anos de open innovation no país, e o cenário que vemos é um ecossistema vibrante e ativo, com números e indicadores que servem de benchmark internacional do tema. Ultrapassamos a marca de 7 mil corporações e 25 mil startups colaborando entre si em processos de inovação, totalizando cerca de 200 mil profissionais envolvidos com inovação no país, número que deve aumentar ainda mais ao longo deste ano.
A curva para chegar aqui cresceu de forma linear nos primeiros sete anos e exponencial nos últimos sete. Segundo dados do Ranking 100 Open Startups, que mede e premia a prática de open innovation com startups, apenas na edição 2022, foram registrados mais relacionamentos entre corporações e startups do que na soma de todos os anos anteriores, de 2016 a 2021.
Foram 42.588 contratos de open innovation registrados em apenas um ano. Isso significa que a prática está mais forte e intensa no Brasil do que jamais esteve. Mas, voltando a 2016, das 100 startups premiadas naquele ano, 50 delas continuam ativas; 20 receberam aporte de venture capital posteriormente à premiação; cinco foram adquiridas por outras corporações; quatro receberam investimentos de fundos de corporate venture capital; duas captaram via plataforma de crowdfunding; oito atingiram status de scaleup e uma se tornou unicórnio.
O total de capital levantado por essas 100 startups no período foi de R$ 2,5 bilhões. Esse grupo também atingiu uma valorização de mercado de 20 vezes – passando de R$ 500 milhões, em 2016, para R$ 10 bilhões, em 2022. Esse desempenho colocaria o portfólio formado pelas TOP 100 Open Startups em Top 4% (Quartil AA) dos melhores resultados de fundos de venture capital americanos em 2022.
Ainda olhando para dados do Ranking 100 Open Startups, das 728 startups premiadas entre 2016 e 2021, 82 se tornaram scaleups até 2022, superando a métrica da proporção “100-10-1”, muito conhecida pelo venture capital, que, estima que, a cada 100 startups que recebem apoio e investimento, 10 se tornam empresas relevantes e 1 se torna líder de categoria de mercado.
O crescimento significativo que as open startups têm apresentado impacta positivamente a sociedade e o mercado, movimentando recursos financeiros, impulsionando a inovação no país, atraindo talentos e gerando milhares de empregos. Ao mesmo tempo, essas soluções que emergem do ecossistema transformam e renovam os setores da economia tradicional, formando a chamada “Nova Economia”.
As empresas inovadoras não apenas competem mais entre si, elas colaboram e constroem ecossistemas. As open startups são as estrelas emergentes desses novos ecossistemas e estão transformando a sociedade em que vivemos. Para citar um exemplo, a Hotmart, plataforma líder na distribuição de produtos digitais, atingiu o status de unicórnio, em 2021, e se consolidou como uma líder global, com 30 milhões de usuários pelo mundo.
O que poucas pessoas sabem é que essa jornada de sucesso começou em um programa de open innovation, quando ela foi uma das vencedoras do prêmio “Sua Ideia Vale 1 Milhão”, do Buscapé. Hoje, assim como outros unicórnios, a Hotmart lançou seu próprio programa de inovação aberta com startups e investiu em pelo menos seis modelos de negócios, sendo uma delas a Biti9, premiada em mais de uma ocasião no Ranking 100 Open Startups.
Vale um destaque também para a Neon, a primeira open startup brasileira a conquistar o status de unicórnio – e premiada na primeira edição do Ranking, em 2016, quando ainda atuava como “Controly”. Em 2019, a Neon adquiriu a MEI Fácil, outra open startup premiada pelo Ranking, e hoje atende mais de 15 milhões de clientes.
Complementando esse ciclo virtuoso, podemos mencionar outras startups unicórnios que passaram a popular a lista de premiadas do Ranking como TOP Open Corps. Esse é o caso do iFood, da Loft, Quinto Andar, Affya, Stone, Vtex e Loggi. Diante deste cenário, entendemos que o ecossistema de open innovation do Brasil atingiu um grau de maturidade, massa crítica e efeito de rede, e hoje já é considerado um benchmarking internacional.
Além disso, estamos imersos em um cenário ao qual contamos com milhares de corporações abertas ao ecossistema de startups, tornando-o extremamente dinâmico e vibrante. Diante disso, os modelos lineares de open innovation, neste momento, não fazem mais o mesmo sentido que faziam pouco tempo atrás. Para avançar e produzir resultados, as corporações que estão liderando esses processos de inovação por meio da colaboração passaram a adotar modelos de Gestão de Ecossistemas.
Isso significa que o grande desafio no qual todas as corporações devem focar neste momento é desenvolver internamente, entre seus executivos, uma massa crítica capaz de identificar e capturar o valor que está sendo gerado pelo ecossistema, e, desta forma, gerar valor junto às startups.
Em outras palavras, se cada uma das corporações que praticam open innovation for capaz de fazer uma boa gestão, junto ao ecossistema de startups que se formou em torno do seu setor de atuação, ela provavelmente terá excelentes resultados no próximo ano, pois o ecossistema, em si, já produz esse resultado.
A boa notícia é que o número de excelentes startups que batem às portas das corporações líderes deverá, mais uma vez, aumentar muito nos próximos 12 meses, como vem acontecendo ano após ano. A má notícia é que, caso a corporação não saiba capturar valor da inovação proposta, muitas outras saberão fazê-lo.
(*) – É engenheiro eletricista, doutor em inovação e estratégia. Fundador da 100 Open Startups. Apoiou mais de 80 startups a atingir status de scaleup e 2 unicórnios (https://www.openstartups.net/).