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Porque nem todas as stablecoins são as mesmas. Como diferenciá-las?

em Destaques
quarta-feira, 01 de março de 2023

Joey Ni (*)

Para aqueles com memória boa (em termos de cripto), a primeira metade do ano passado foi dominada pelo colapso da rede cripto Luna e – por associação – a stablecoin TerraUSD/UST.

A última causou um trauma particular, não apenas para os traders que já tinham investido na moeda, mas para a indústria como um todo: uma ‘stablecoin’ não deveria entrar em colapso .

A chave para esse acontecimento está nos detalhes, e particularmente, na relação entre a stable in Terra USD/UST e o ativo que deveria estar fornecendo a estabilidade. O último não era um ativo tradicional baseado em FIAT, mas sim um ativo melhor descrito como ‘sister token’, Luna, desenvolvido para “ancorar” a stablecoin.

Havia muitos elementos em movimento – incluindo o processo de continuamente re-emprestar moedas UST depositadas para outros traders sem taxas de reserva sendo mantidas – mas, na essência, se poderia argumentar que a UST não tinha o direito de se descrever como uma stablecoin. E, certamente, nem de sugerir qualquer ligação com o dólar norte-americano!

Em comum com outros ativos financeiros, o valor de criptomoedas é baseado em uma combinação das chamadas ‘fundamentals’ (princípios básicos) como tendências macroeconômicas, oferta e demanda para a moeda (assim como a política registrada da emissora em emitir novas moedas no mercado), e assim como fatores menos tangíveis como o sentimento de mercado, e até, moda.

Na realidade, criptomoedas tendem a ser mais voláteis do que as suas contrapartes FIAT. Em parte, esse é um fator relacionado à sua originalidade; o cripto tem estado no mercado de forma “séria” por apenas pouco mais de uma década, enquanto que o dinheiro tradicional, por mais de cinco mil anos!

Isso também é parte do atrativo de cripto: a volatilidade pode levar a ganhos significativos: bitcoin ainda foi o ativo de melhor performance durante a década de 2011-2021, entregando retornos anuais de 230%! Porém, cripto (e seus traders) não são apenas sobre arbitragem, ou, até, instrumentos tradicionais de cobertura.

Muitos traders — particularmente na América Latina – veem cripto como uma maneira de conduzir comércio internacional que pode ser muito caro através de bancos tradicionais. Outros enxergam o cripto como um meio conveniente até para transações domésticas.

No ano passado, por exemplo, 500 bilhões foram transferidos para a América Latina de outros países; sendo que boa parte representa remessas essenciais para famílias com pouco acesso a serviços bancários internacionais. Outros traders de cripto estão simplesmente interessados em mitigar as desvalorizações das suas moedas FIAT locais; no ano passado, a Argentina e a Venezuela tiveram taxas de inflação de 114% e 79%, respectivamente, em comparações anuais!

Em tais casos, as stablecoins representam uma alternativa já que o seu valor é ligado, ou vinculado, a outra moeda, commodity, ou instrumento financeiro. Elas fornecem um contraponto a, não apenas a volatilidade das criptomoedas tradicionais, mas também os “caprichos” dos índices FIAT e dos próprios instrumentos – desde taxas de câmbio à inflação.

Stablecoins FIAT-colateralizadas são totalmente respaldadas com um ativo baseado em FIAT (ou seja, qualquer montante de moeda stablecoin é combinado com um valor igual em dólar americano ou outros ativos reconhecidos denominados por dólar americano como ouro). Algumas das stablecoins respaldadas por FIAT incluem Tether ou USDT e USDC Coin.

Stablecoins cripto-colateralizadas, por outro lado, geralmente tem o seu colateral em outras criptomoedas. Uma das stablecoins cripto-colateralizadas mais importantes é a DAI, cujo valor é mantido em paridade com o dólar americano, através de uma série de contratos inteligentes no seu MakerDAO, incentivando membros a executarem manutenção e controle para manter o seu valor.

Nem todas as stablecoins tem o seu colateral em outro ativo como ouro ou, até, criptomoedas. O objetivo primário desse tipo de criptomoedas é manter o valor da stablecoin estável, controlando sua oferta através de algoritmos – essencialmente um programa de computador executando sob uma fórmula pré-estabelecida.
Por natureza, os algoritmos tendem a ser menos estáveis que as suas contrapartes crypto – especialmente os suportados por FIAT. Um exemplo disso era a TerraUSD (UST).

Então, nem todas as stablecoins são as mesmas; algumas categorias de stablecoins são intrinsecamente mais voláteis que outras. Essa volatilidade pode representar um risco não-aceitável, ou uma oportunidade imperdível — tudo depende de quem está investindo e com quais objetivos.

Há alguns princípios que traders “sérios” de cripto geralmente entendem e respeitam. E esses são princípios que os traders menos experientes devem aprender antes de “mergulhar de cabeça” no mercado. Nem todas as stablecoins são as mesmas. Algumas delas não são necessariamente estáveis… e isso é normal.

(*) – Formado em Matemática Financeira e Física, com experiência em criptomoedas, é Gerente Sênior de Desenvolvimento de Negócios na Phemex (https://phemex.com/pt).