Os drones têm um papel cada vez mais destacado na área militar; seu uso cresceu muito na guerra da Ucrânia, na qual a Rússia recorreu a drones de fabricação iraniana em seus ataques e a Ucrânia os usou para sua defesa.
Vivaldo José Breternitz (*)
Muitas forças armadas estão adotando drones e agora os Estados Unidos, um dos países pioneiros na sua utilização militar, prepara-se para equipar os seus aparelhos com capacidades de reconhecimento facial, que lhes permitirá tomar decisões de forma autônoma, como por exemplo atacar ou não uma determinada pessoa.
O Pentágono contratou a empresa RealNetworks, com sede em Seattle, para desenvolver um projeto que visa implementar o reconhecimento facial em pequenos drones para identificação de pessoas e coleta de informações – evidentemente o governo americano não explicitou que esses drones também poderão atacar sem depender de comandos de um piloto humano.
A RealNetworks já recebeu outros projetos do governo americano na área de reconhecimento facial, incluindo alguns dedicados a controles de acesso a áreas de segurança e missões de resgate, bem como adaptando-os a robôs quadrúpedes usados para vigilância.
A identificação por reconhecimento facial funciona com alto grau de sucesso se a imagem da face for capturada em condições adequadas, mas é mais difícil obter imagens de qualidade com o uso de um drone. O projeto a ser desenvolvido procurará superar essa dificuldade e seu custo está ao redor de 800 mil dólares.
O reconhecimento facial a partir de um drone pode ter múltiplas aplicações de segurança, desde a vigilância de recintos até a localização de suspeitos. No entanto, equipar um drone com reconhecimento facial e permitir que ele responda de forma autônoma aumenta as possibilidades de que ele possa ser usado para encontrar e matar alguém, com as questões éticas e legais que tal operação levanta.
Os Estados Unidos têm usado frequentemente drones para ataques a líderes terroristas e outros inimigos, mas sempre cabendo a um piloto humano a decisão de atacar ou não. Um dos mais notórios ataques de drones americanos foi o que matou Ayman al-Zawahiri, líder da Al Qaeda, no início de agosto de 2022 em Cabul, por ordem do presidente Joe Biden. O egípcio Al Zawahiri, um dos terroristas mais procurados, havia substituído Osama Bin Laden no comando da organização terrorista após a morte deste em 2011.
Outros países também estão desenvolvendo projetos similares, entre eles Israel e Turquia; o uso de dispositivos como esse aumenta o medo de que drones com programas de reconhecimento facial possam ser usados por criminosos e organizações terroristas para atacar seus alvos.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.