Heródoto Barbeiro (*)
A greve geral se torna um instrumento político. Ao invés de juntar trabalhadores buscando melhores salários e condições de trabalho, outras categorias se juntaram.
Responsabilizam o presidente da República pela situação calamitosa que vive o Brasil e, segundo os líderes do movimento, a saída é uma paralisação geral. O movimento arregimenta milhares de pessoas nas praças e a polícia não tem condições de controlar.
Jornalistas presentes nos comícios descrevem a situação como extremamente grave e que o embate entre manifestantes e policiais pode ocorrer a qualquer momento.
Os líderes da greve divulgam que o movimento é pacífico e ninguém quer invadir prédios e arrebentar tudo. Ainda assim, há quem diga que o grupo não passa de arruaceiros, vagabundos e vândalos. A situação política do país não é das melhores. Até mesmo a guerra que se desenvolve na Europa traz prejuízos para a população.
Há dificuldade no trânsito marítimo, agravado pelo bloqueio naval. Com isso os produtos importados sobem de preço, agravam a inflação, tiram o poder de compra dos assalariados e jogam lenha na fogueira.
O presidente não sabe como enfrentar uma greve geral. É a primeira vez que isso ocorre no governo dele. A oposição culpa o presidente por ser fraco, por querer negociar com todos, e evitar a todo custo um movimento que pode, até mesmo, desbancá-lo da chefia do Poder Executivo.
Outros países vivem uma situação semelhante, uma vez que a guerra na Europa desarranja a cadeia mundial de produtos. Pandemias também atrapalham a todos e o número de mortes rapidamente aumenta pelo mundo. Ainda assim, há um forte movimento pela greve geral.
Os jornais dão cada vez mais destaque para o movimento, especialmente em São Paulo. Além de ser uma grande cidade, concentra a maior parte do parque industrial e financeiro. É chamada de “a locomotiva do país”. O primeiro passo do movimento é fechar as fábricas. Piquetes são organizados para impedir a entrada dos que não querem aderir ao movimento.
O presidente da República, Wenceslau Braz, está em constante contato com o governador de São Paulo, Altino Arantes. Este garante que não vai permitir baderna, arregimenta o batalhão da cavalaria da Força Pública para atuar caso necessário.
Finalmente estoura a primeira greve geral do Brasil, em 1917, com fábricas, escritórios e transportes públicos parados. A polícia política está de olho na liderança do movimento constituída por socialistas de várias tendências e até mesmo anarquistas.
A maior parte dos operários é de origem europeia e trouxe na bagagem os movimentos políticos e sociais que se espalharam pela Europa antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial.
O diálogo entre governo, empregados e patrões poderia ser mais rápido e produtivo com uma pauta aceita tanto pelos patrões como pelos empregados, se não fosse a morte de um operário no bairro paulistano do … Brás.
(*) – Professor, jornalista do R7, Record News e Nova Brasil, além de autor de vários livros de sucesso, é gestor da reserva ambiental Mahayana.