David Braga (*)
Você reconhece seus talentos e seu potencial? Enxerga seus pontos a serem desenvolvidos com lente de aumento e não reconhece suas qualidades?
Sempre acredita que seu colega de trabalho é mais competente e merecedor de progredir na carreira que você? Se as respostas a essas perguntas foram positivas, atenção: você pode ser vítima da chamada Síndrome do Impostor.
Trata-se de uma desordem psicológica que faz muitos profissionais não se sentirem, de fato, merecedores de suas habilidades e conquistas, o que vale tanto para o universo pessoal, quanto para o profissional.
O detalhe é que esse sentimento acomete talentos com plena capacidade de performar por serem competentes, de fato. Porém, por terem algumas distorções de autoimagem ou por serem altamente perfeccionistas, nunca entendem serem bons o suficiente.
A procrastinação, ou seja, o adiamento de suas atividades, é um sinal importante desse comportamento. Isso porque esses profissionais guardam preciosismos em relação a detalhes e, com isso, suas entregas acabam sendo prejudicadas em relação a prazos, por exemplo.
Para eles o ditado “feito é melhor que perfeito” não se aplica e pode ser melhor lido como “feito é pior que perfeito” já que, independentemente da urgência da entrega, a qualidade sempre pode ser melhor, por usualmente serem perfeccionistas.
Entre os perfis de profissionais mais propensos a apresentarem a Síndrome do Impostor, destacam-se os workaholics, que trabalham além do necessário para disfarçar (até para si mesmos) desvios na autoconfiança. É que quem sofre da Síndrome de Impostor enxerga a autoimagem com certa miopia apresentando, até mesmo, baixa autoestima.
O orientador vocacional da Michele Obama, por exemplo, disse, há alguns anos, que ela não seria boa o suficiente. Por ele ser uma referência importante em sua carreira, esse feedback foi desastroso e, mesmo após se tornar primeira-dama, ela voltava a se fazer esse questionamento.
. Impactos na carreira – A má notícia é que a Síndrome do Impostor pode ser bastante prejudicial ao crescimento de um profissional. Isso ocorre porque ele pode deixar de aceitar projetos por acreditar que não tem competência para assumi-los, ou seja, o próprio profissional não acredita em si mesmo e se autossabota, evitando o seu autodesenvolvimento pelo excesso de autocrítica.
A boa notícia é que ninguém é perfeito. Portanto, é preciso entender que ninguém tem pleno conhecimento em tudo. Todos, sem exceção, começaram um dia e ninguém sabe tudo sobre todos os assuntos.
Além disso, com boa vontade e dedicação, habilidades técnicas e comportamentais podem ser adquiridas. É possível, por exemplo, buscar formações técnicas ou até mesmo um mentor, que irá lhe auxiliar em algumas questões.
. Autoconhecimento é fundamental – Ninguém melhor do que você, para se conhecer, quanto aos seus pontos positivos e aquilo que ainda precisa melhorar. Quando você se conhece de maneira profunda, consegue direcionar seus caminhos seja no âmbito pessoal, seja no profissional e isso pode ser conquistado através de terapia ou mesmo via processo qualificado de coaching.
Ferramentas avaliativas, também conhecidas como assessment podem ser aplicadas, para que você possa conhecer suas principais competências e habilidades. Dessa forma, você terá clareza de quem é você e não ficará refém dos comentários alheios.
Em tempos em que a grande maioria das pessoas opinam sobre nossas escolhas e decisões, definindo o que é certo ou errado, é importante nos blindarmos e nos conhecermos para não nos colocarmos no papel de impostor.
E já que ninguém é perfeito, que possamos lembrar sempre disso, trazendo dessa forma, mais leveza à nossa vida.
(*) – É CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search, Conselheiro de Administração pela Fundação Dom Cabral e atua como conselheiro da ONG ChildFund, da ACMinas e da ABRH-MG. Instagram: @davidbraga/@prime.talent.