Passado o calor mais intenso das eleições, gostaria de trazer o tema para uma reflexão, ou comparação, de negócios. De empreendedorismo. E de continuidade.
Já parou pra pensar que ao votar para o cargo de presidente da república você está elegendo o equivalente ao CEO de uma grande empresa?
Algo como uma grande empresa global. Assim o governador seria o CEO de uma grande empresa nacional e o prefeito, CEO de uma empresa pequena.
Você analisa sua experiência anterior, suas conquistas e falhas, sua visão de mundo, seu estilo de gestão e de liderança. Por favor não entre no modo conflito, nós versus eles, direita versus esquerda, A versus B. Siga comigo na análise do processo e seus desdobramentos.
Você tem uma visão de mundo, tem suas crenças, suas causas e seus desejos. Isso vai influenciar, e muito, na escolha da empresa onde deseja trabalhar. Se mais quadradinha ou mais descolada, com mais solidez e história ou mais flexibilidade e em construção, com participação nos resultados e metas arrojadas ou menos pressão e agenda mais leve… As possibilidades são infinitas, mas acredito que tenha colocado meu ponto.
Pois se com seus desejos, sua visão de mundo e suas crenças, você pudesse escolher que fosse liderar a sua empresa, tenho certeza que isso influenciaria na sua escolha.
Da mesma forma como influenciaria nas escolhas dos outros colaboradores da mesma empresa, que possuem uma visão um pouco diferente da sua, estejam em momentos de vida diferentes e compartilham de outras crenças. O José ou Maria, da mesa do lado, com quem você almoça pelo menos duas vezes por semana e torcem pelo mesmo time de futebol.
Entendo que você não pediria demissão caso outro CEO fosse escolhido, mas continuaria falando com seu gestor direto e com o RH sobre como você vê a empresa, a atuação do CEO e quais mudanças gostaria. E algumas delas até podem ser incorporadas logo de saída, outras demoraria um pouco mais e algumas não seriam implementadas. Mas há um espaço amplo, rico, diverso e seguro para apresentar visões e opiniões diferentes. São não podem conflitar com os valores da empresa, nem com o propósito dela.
Após eleito – ou escolhido depois de um longo trabalho de hunting, o que é mais provável rs – ele deve montar o seu time. E aqui reside outra grande beleza.
Não adianta ser genial em negócios, se não entender nem gostar de gente.
A empresa, ou o governo, é composta por diversas pessoas, com competências, visões e comportamentos diferentes, que juntos e misturados, se complementam e entregam um resultado.
Todo e qualquer organismo – prefiro organismo que chamar a empresa de organização, assim como o Seth Godin – precisa de conhecimentos e competências complementares, que bem orquestrados pelo líder, entregam resultados incríveis. Pessoas que entendam de vendas, de processos, de gente, de finanças, de gestão, de marketing, de produção, de controlar e de prestar contas. Cada um com seu universo de responsabilidades e competências específicas, que integrados, compõem o organismo.
Aqui poderíamos até desdobrar para os consumidores, os cidadãos, que continuamente interagem com estas empresas chamadas governo, federal, estadual e municipal. E a reação dos clientes premia ou derruba o CEO. Mas vamos abordar isso em outra conversa.
Voltando, vale lembrar que antes de um CEO cair, muitos consumidores falaram com as áreas de atendimento, compartilhando as experiências, boas e ruins, e trazendo contribuições e sugestões para a melhoria do produto, ou da cidade, do estado ou do país. E se, de fato, ele se preocupa com a empresa e tem um grande time, fará as mudanças necessárias para a empresa continuar útil e conectada com seus consumidores.
Países, assim como grandes organizações, não conseguem fazer movimentos rápidos e bruscos, mesmo que saibam que são necessários. Assim como um grande navio transatlântico -não o que afundou (risos) – as grandes empresas precisam antever com uma certa antecedência o movimento a ser feito. Essa capacidade de enxergar, e entender, o que acontece e suas possíveis consequências é a principal demanda de um gestor e do seu time.
Agora se você tem ou está pensando em montar um negócio de pequeno porte, tenho boas e más notícias para você.
A boa é que a estrutura sempre começa menor, mais ágil, mais leve e mais barata para operar que uma grande corporação. A ruim é que toda esta demanda e responsabilidade que cai sobre o líder, como entender de negócios e de gente, liderar de forma leve e proativa e ouvir seus colaboradores e clientes é obrigatória, independente do tamanho do seu negócio.
Mas acalme seu coração. Será uma jornada maravilhosa de aprendizado e crescimento! Dê o primeiro passo.
Alessandro Saade – Fundador dos Empreendedores Compulsivos, é também executivo, autor, professor, palestrante e mentor. Possui mais de 30 anos de experiência atuando com grandes empresas e startups brasileiras, tornando-se referência no universo do empreendedorismo no Brasil. Formado em Administração pela UVV-ES, com MBA em Marketing pela ESPM e mestrado em Comunicação e Mercados pela Cásper Líbero, especializou-se em Empreendedorismo pela Babson College e em Inovação por Berkeley. Atualmente é Superintendente Executivo do ESPRO, instituição sem fins lucrativos que há 40 anos oferece aos jovens brasileiros a formação para inserção no Mundo do Trabalho.