Daniel Schnaider (*)
Como muitas vezes as pessoas inteligentes acreditam em certas coisas que não fazem sentido algum? O uso de números por vezes se caracteriza fortemente em uma arma para jogar um grupo contra o outro. Políticos usam para a manipulação, comerciais para instigar a compra de produtos, entre tantas outras manobras em massa. Não quero aqui diminuir a importância das estatísticas, longe de mim.
São extremamente importantes para muitas áreas, como exemplo, a medicina, afinal sem os números os médicos não teriam certeza nem da prescrição de uma aspirina. No mercado financeiro nem se fala, pois muitas pessoas investem em debêntures mais seguros, a partir das probabilidades que só esses números proporcionam.
Existe uma frase de Mark Twain que em tradução livre fala: “Mentiras, mentiras malditas e estatísticas”. Isso se aplica a um caso famoso que me lembro, em que existia um comercial que dizia que 80% dos dentistas recomendavam tal marca de pasta de dente, era verdade, porém, o que ninguém contava é que na mesma pesquisa, um profissional recomendava mais de uma, não era uma opção única, portanto, muitas outras também receberam a mesma nota de recomendação.
Sorria, você está sendo manipulado. Se trouxer para o âmbito da política, entre democratas e republicanos, um vai dizer que quer aumentar só 1% dos impostos, o outro o acusa dizendo que, na verdade, se temos 1% dos impostos e irá para 2%, teremos um aumento de 100% relacionado ao que já tínhamos, ou seja, manipulação pura.
O contexto acima gera voto, mas na medicina, por exemplo, se a descoberta de que a probabilidade de um remédio ter efeitos colaterais vai de 0,05% a 0,10%, e a notícia for que aumentou 100% e não 0,05% – o que é insignificante, as pessoas vão parar de tomar a medicação, o que pode tornar isso uma questão seríssima de saúde pública.
Visto esses exemplos, o grande problema das estatísticas está na correlação, e é isso que é escondido quando ela vira uma estratégia de manobra, e aí que mora o perigo. Por exemplo, um cenário fictício, uma pesquisa aponta que em uma cidade as vendas dos sorvetes e os incêndios aumentaram significativamente, ou seja, quanto mais as matas são queimadas, mais se consome a sobremesa, ou seja, fizeram uma relação de causa e efeito.
Quando na verdade, a temperatura muito alta seria a causa e o consumo e as queimadas seriam os efeitos. São estatísticas variáveis que não tem correlação entre elas. Uma relação entre dois fatores, não pode se confundida com causa e efeito, e da forma como a pesquisa, geralmente, é exposta, fica muito fácil dar a entender que tem uma conexão.
Para determinar a causa, é estritamente necessário utilizar uma ferramenta que chama RCT – Random Control Trial, em que você seleciona um grupo de controle que, por exemplo, fuma e outro que não, depois faz a experiência e analisa se as pessoas que não estão expostas ao tabaco realmente tem uma taxa menor de câncer de pulmão.
Assim, é possível fazer uma relação eficaz de causa e efeito, de qualquer outra forma, estarão mentindo com números. Existem mais outras diversas formas de conseguir manipular os números, como pegar um determinado grupo para as pesquisas, ou mesmo uma pequena amostra que não representa a população.
Quando, por exemplo, você vai fazer uma pesquisa de satisfação de uma empresa, se você tiver uma amostra com menos de 30 clientes, não obterá um resultado com o efeito galziano, ou seja, não criará uma representatividade e correrá o risco de obter uma leitura dos dados incorreta. Quanto maior a amostra, mais assertiva a pesquisa se tornará.
Também existem dois outros truques que utilizam para que você seja manipulado, o Simpson’s Paradox que faz amostragens em grupos separados, mas se forem unidos podem reverter o resultado, pois os tipos de parcelas investigadas podem ficar concentrados em um grupo só.
O outro são os gráficos, quando uma amostra apresenta uma margem que representa 5%, e dentro daquele contexto, se transforma em 50%, mas não é bem essa a verdade. Seja lá qual for a forma de apresentar os dados e fazer as amostragens, pode-se gerar a engrenagem de manipulação.
E o que eu quero dizer com tudo isso, é que as estatísticas cada vez mais trazem a sensação de que estamos de lados opostos, que nossas diferenças são enormes, e caso realmente a relação entre causa e efeito seja aplicada corretamente, descobriremos que somos muito mais compatíveis em relação aos problemas e soluções do nosso país.
Principalmente na política, o grande pulo do gato é entender que aquilo pode ser ferramenta de massa de manobra, portanto, é necessário fazer perguntas sobre como o estudo foi feito, quem são as amostras e quais métodos de análises foram utilizados. Não se deixem manipular.
(*) – Economista, especialista em logística, tecnologias disruptivas e autor da obra “Pense com calma, aja rápido”, é CEO da Pointer by Powerfleet Brasil, soluções de IoT para redução de custo, prevenção de acidentes e roubos em frotas.