O aumento do uso de telefones celulares vem gerando a extinção dos telefones públicos – entre nós, percebe-se o rápido desaparecimento dos orelhões.
Vivaldo José Breternitz (*)
Dado esse movimento, o Ofcom, órgão regulador das telecomunicações no Reino Unido, fixou regras para evitar que ali, as tradicionais cabines vermelhas chamadas kiosks, em que são instalados os telefones públicos, sejam extintas.
Essas regras, que acabam de entrar em vigor, preveem a manutenção dos kiosks em áreas rurais onde a cobertura da rede móvel é inadequada e em áreas com altas taxas de acidentes e suicídios. Também serão mantidos os kiosks de onde se originaram pelo menos 52 ligações nos últimos doze meses.
Apesar de as ligações a partir de kiosks terem caído de 800 milhões de minutos em 2002 para 4 milhões no período 2021-22, dados do Ofcom apontam que milhares de chamadas para os serviços de emergência foram feitas a partir deles. São exemplos as chamadas para os serviços Childline e Samaritans que prestam assistência a jovens em caso de abuso, bullying e sofrimento mental e apoio emocional a quem vive em situação de crise, depressão e risco de suicídio. Foram respectivamente 25 e 20 mil chamadas em 2020.
O certo é que não será possível evitar a retirada de todos os kiosks – cerca de 1.400 serão mantidas.
Nos últimos anos, cidadãos e instituições locais trabalharam para manter as cabines. A própria British Telecom, que opera os serviços de telefonia, lançou o projeto Adopt a Kiosk, que levou cerca de seis mil cabines fora de uso a serem recuperadas e utilizadas como pequenas bibliotecas, guarda de desfibriladores em locais públicos e pontos de exibição de obras de arte.
Infelizmente, pelo seu formato, parece difícil que possamos usar nossos orelhões desativados para qualquer fim.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.