Rafael Sobral (*)
Há alguns anos, se alguém dissesse que trabalhava em home office, a surpresa era grande e causava impacto. Até mesmo alguns dias da semana trabalhando de casa já era visto como um privilégio imenso, afinal de contas, a cultura do escritório cara-a-cara era (e ainda é) muito intrínseca para nós, principalmente no Brasil. Mas, com a pandemia e as definições de distanciamento social, tudo mudou.
Muitas empresas tiveram que modificar rapidamente sua estrutura para proteger seus funcionários, e até mesmo as funções mais tradicionais conseguiram ser adaptadas para o trabalho remoto. Na fintech em que eu atuo, isso mudou de forma rápida. A gente já entendia que trabalhar online era o presente e que a cultura da empresa continuaria a vibrar entre os colaboradores.
Não é uma missão simples, é verdade, mas se tornou viável quando entendemos que em qualquer lugar do mundo podemos fazer nosso trabalho com qualidade, segurança e assertividade. O home office se tornou quase que uma lei e o vislumbre de voltar ao escritório é muito distante para a maior parte dos profissionais, que evoluíram sua maneira de trabalhar para o anywhere office, que significa, literalmente, trabalhar em qualquer lugar.
Esse conceito vem ganhando muitos adeptos desde antes da pandemia, com os chamados nômades digitais, mas com certeza o momento que passamos acelerou isso: segundo um relatório da plataforma Workana, 94,2% dos trabalhadores com carteira assinada querem continuar atuando à distância, e 84,2% dos gestores pretendem promover o trabalho remoto mesmo depois que o distanciamento social acabar.
A tecnologia com certeza é uma aliada, mas isso não significa que apenas somente empresas desses segmentos conseguem manter uma cultura organizacional 100% digital. Muito pelo contrário, qualquer empresa e empreendedor que esteja disposto a entender que nossos padrões mudaram, que os profissionais de diversas áreas já perceberam que podem sim ter o conforto de morar em qualquer lugar do mundo e ainda assim manter seu ritmo de trabalho, consegue preparar sua empresa para funcionários anywhere.
E, apesar de parecer uma coisa geracional, não são apenas os millenials que viram benefícios nisso: um relatório da Hubble mostrou que, na verdade, os chamados ‘baby boomers’ (nascidos entre 1945 e 1964) são os que mais enxergam benefícios no trabalho remoto e não pretendem voltar ao escritório tão cedo.
Embora a gente não saiba quantas empresas exatamente irão preferir manter o formato de trabalho remoto para sempre, sabemos que muitas pessoas se sentem desestimuladas ao saberem que irão ser “obrigadas” a voltar ao escritório. E é aqui que acho importante dizer que, se sua empresa quer reter esses talentos, é importante que ela esteja preparada para entender as vontades e necessidades desses perfis.
O que leva essas pessoas a não quererem trabalhar presencialmente? É realmente necessário que a minha equipe passe por esse estresse? Consigo manter uma cultura e valores mesmo à distância? – Certamente não será fácil e as ações para viabilizar o modelo remoto ainda irão demandar uma pitada de interações físicas/presenciais, indispensáveis para a criação de relações sólidas interpessoais e fortalecimento da cultura, mas se você respondeu sim para as perguntas acima, então sua empresa provavelmente está preparada para o anywhere office.
É importante estarmos abertos para entender que o que faz o profissional ser bom no que faz e entregar resultados não é o lugar onde ele está, e sim, como a empresa o ajuda e dá suporte para realizar seus feitos, independente da onde ele esteja – em casa, na praia, em um café, em outro estado ou em outro país.
(*) – Formado em Engenharia Mecatrônica pela USP, com passagem pela GP Investimentos, BCG e Gympass, é co-CEO da Blu.