Jeison Schneider
De uns tempos para cá, muito se ouve falar sobre ‘buy now pay later’ e diversas pessoas já se depararam com esta expressão.
O termo começou a ser usado fora do país por novas empresas que iniciaram suas operações de vendas a prazo sem o uso do cartão de crédito. Ele começou a ser reverberado no Brasil como algo novo, embora aqui o “compre agora e pague depois” não seja exatamente uma novidade. Nada mais é do que um sistema de crediário, modalidade que existe há anos e traz uma série de benefícios para os consumidores e o setor varejista brasileiro.
Estudos indicam que o sistema de crediário foi criado em 1858, por um empresário que vendia máquinas de costura. Porém, ele ganhou mais relevância no varejo em 1950, quando as Casas Bahia implementaram o carnê físico. Portanto, não é de hoje que os consumidores criaram uma cultura de parcelar compras, enquanto os lojistas aprenderam que nessa modalidade o cliente retorna para pagar o carnê e acaba comprando novamente.
Esse processo fez com que o modelo de negócio se consolidasse por aqui. Apesar de bastante comum, só agora o resto do mundo está entendendo a eficiência do varejista parcelar as vendas com o consumidor pagando “mais tarde”. Mas afinal, o que é então o ‘buy now pay later’ e qual a diferença para o crediário tradicional? Basicamente, o termo tem sido explorado com um foco digital, ou seja, no e-commerce. E aí que está a diferença. Entretanto, no fim das contas, seja no digital ou no carnê físico, o conceito do crediário é o mesmo.
Em relação ao modelo, lá fora as lojas pagam uma taxa de operação de crédito e parcelam as compras em até 4 vezes. Em alguns países este pagamento ocorre a cada 15 dias e, em outros, de forma mensal. Já aqui, o crediário funciona com outras variáveis, como em relação ao primeiro vencimento, que geralmente pode ser em 30, 60, 90 ou 120 dias após a compra, e com parcelamento de duas até 24 vezes, dependendo do valor da transação.
Isso ocorre porque o varejista brasileiro tem um relacionamento muito forte com o crediário e faz esforço para o consumidor usar este canal de vendas. Um dos grandes benefícios para os lojistas é que o crédito facilita a venda e gera fluxo na loja com o recebimento das parcelas. Para o consumidor, o empoderamento financeiro é a maior vantagem.
O acesso a crédito que as lojas podem oferecer é um diferencial principalmente para as classes C e D, que geralmente não tem cartão de crédito ou quando possuem deixam para usá-lo em momentos de crise e necessidade. Existe também o benefício mútuo que é a construção do relacionamento entre lojista e cliente.
Tanto aqui quanto fora, ainda há muito espaço para o crescimento do crediário, pois o mercado varejista entende cada dia mais que essa modalidade vai além de ser um canal de vendas. Afinal, ela também gera receita pelo serviço financeiro, desde juros no parcelamento até serviços como carteira digital e empréstimo pessoal. A tendência é que diversas empresas do exterior venham atuar no mercado nacional, mas algumas poderão patinar ao não entender a essência do negócio em âmbito nacional.
Já outras irão entender o risco da operação, mas não terão familiaridade, uma vez que o modelo de relacionamento é muito diferente do cartão e com raízes bastante peculiares. Apesar disso, sem dúvidas, o termo popularizado no exterior pode beneficiar o crescimento do crediário no Brasil e boas oportunidades no setor surgirão pela frente.
(*) – É sócio-fundador e CEO do Meu Crediário e pioneiro na modalidade ‘buy now pay later’ no Brasil.