Sofia Gancedo (*)
Enquanto os aviões do Mercado Livre voam pelos céus do Brasil para transportar milhares de pacotes, um morador de Mendoza investe em um imóvel em Miami, sem sair de sua mesa, com apenas alguns cliques.
Simultaneamente, o executivo de uma multinacional conversa por teleconferência com seus colegas em diferentes partes do mundo, ao mesmo tempo em que um designer gráfico no México trabalha para um empresário localizado em Hong Kong. Em todos esses exemplos, vemos um padrão comum: a transnacionalização dos serviços como consequência da crescente globalização, acentuada e acelerada pelo efeito digitalizador da pandemia.
Este é um dos primeiros legados do chamado novo normal. Como essa mudança de era afeta o Brasil e o mundo? Além dos danos irreparáveis que vemos em termos de saúde e econômicos, há, por outro lado, algumas luzes que mostram um horizonte de oportunidades. A evolução da transformação digital é constante.
Inteligência artificial e biologia sintética, por exemplo, criarão mais de 395 milhões de empregos até 2030, segundo estudo do Boston Consulting Group, Looking to Nature for the Next Industrial Revolution. Dados do Fórum Econômico Mundial presentes nesse estudo apontam que esse processo disruptivo possa levar a oportunidades de negócios anuais no valor de US$ 10 trilhões e criar 395 milhões de empregos até 2030.
Muitos empreendedores, desde a gênese do negócio, elevam sua proposta de valor com vistas à internacionalização, e hoje há cada vez mais PMEs que ousam transcender os limites locais. Não obstante, para ganhar competitividade, assim como produtividade e inclusão econômica, além das fronteiras de suas terras natais, invariavelmente, também precisam se ajustar à revolução tecnológica, conhecida como a quarta revolução industrial.
Segundo o white paper “Accelerating the Impact of Industrial IoT in Small and Medium-Sized Enterprises: a Protocol for Action”, divulgado no ano passado pelo Fórum Econômico Mundial, as pequenas e médias empresas precisarão superar grandes desafios, como renovar a sua infraestrutura e processos, incluindo a tecnologia da informação, para navegarem por um cenário tecnológico preparado para atender geralmente empresas maiores.
Quando se trata de empreendedorismo, o mundo é plano e pede ousadia. É por isso que as startups, na medida em que seus serviços permitem, devem sonhar grande a partir do minuto zero.
Um estudo encomendado pelo BID e Finnovista garante que mais de 1,1 mil empresas do setor de Fintechs foram identificadas na América Latina, muitas delas em estágios avançados de desenvolvimento e operando além de suas fronteiras. Esta é uma evidência clara de que a transfronteirização dos serviços financeiros começou há anos e agora está finalmente decolando. Nesse contexto, a transfronteirização também abre uma grande porta no mundo das finanças.
A tecnologia não só democratiza a entrada em investimentos, mas também amplia o leque de oportunidades, desde o acesso remoto a imóveis nos mercados mais estáveis do mundo, sem a necessidade de se deslocar a esses destinos, até a compra de criptomoedas, ações ou outros instrumentos que estão além da América Latina. Os brasileiros, ansiosos por encontrar uma reserva de valor para suas economias, hoje têm muito mais alternativas do que guardar seu dinheiro debaixo do colchão.
Essa é uma boa notícia em um país que sofre com a inflação endêmica e com muito pouco acesso a crédito que permite apostar no tijolo. Por outro lado, a educação financeira e planejamento são essenciais em um país de contrastes socioeconômicos brutais, em que na mesma semana se projeta alta do PIB do Brasil, de 3% para 4,5%, para 2022, segundo o Banco Mundial, ao mesmo tempo que a desigualdade de renda bate recorde com perda de emprego dos mais pobres.
Os desafios são muitos, mas os sonhos são ainda maiores. Meu desejo é que tanto as pessoas, quanto as PMEs e os trabalhadores, de modo geral, tenham mais ferramentas e oportunidades de crescimento, economia e renda à mão. A tecnologia nos oferece essa possibilidade e muitos estão em tempo de aproveitá-la.
(*) – Formada em Administração de Empresas pela Universidad de San Andrés, com mestrado em Economia pela Eseade, é COO da Bricksave (www.bricksave.com).