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Jornada de trabalho com quatro dias na semana – será esse o novo normal?

em Manchete Principal
quarta-feira, 23 de junho de 2021

Jornada de trabalho com quatro dias na semana – será esse o novo normal?

A chegada da pandemia fez com que empresas de todo o mundo tivessem que se adaptar a novos modelos de trabalho. A necessidade do isolamento social provocou a mudança mais significativa: a adoção do trabalho remoto. O formato deu tão certo que hoje, empresas e funcionários pensam em adotar cada vez mais um modelo híbrido.

Diversas empresas estão adotando o modelo de quatro dias por semana. Um exemplo é a Microsoft Japão, que adotou a medida e viu a produtividade de seus colaboradores aumentar em 40%. Mais de 90% dos 2280 trabalhadores da Microsoft no país afirmaram ter sido beneficiados. Aqui no Brasil esse formato de 4 dias por semana ainda não é realidade na maior parte das empresas, mas algumas adotaram e os resultados estão sendo positivos.

Na startup Mineira Crawly , os funcionários trabalham quatro dias por semana desde 2018, mesmo antes da pandemia chegar, além de adotar o modelo home office. Segundo João Drummond, CEO da Crawly, no início eles começaram com 90% da empresa atuando com carga horária reduzida, mas recentemente 100% da companhia passou a trabalhar apenas 4 dias na semana.

“Acreditamos que um dia a mais de descanso por semana e a adoção home office, possa contribuir para deixar as pessoas mais felizes, mais saudáveis, gerando assim um ambiente de trabalho mais agradável. E é comprovado que pessoas mais felizes, descansadas e saudáveis produzem mais. Além disso, é um excelente diferencial de mercado para apresentarmos durante os processos de recrutamento”, conta João.

O executivo aponta também que estruturar a empresa pensando não somente no lucro, mas na qualidade de vida do funcionário, faz com que tenha menos rotatividade de equipe. “Embora a gente sempre tenha adotado o modelo home office e jornada de trabalho de 4 dias, não tendo como comparar ao modelo tradicional, podemos dizer que funciona, pois no último ano tivemos apenas 1 pedido de demissão e uma equipe extremamente comprometida que ajuda no crescimento da empresa.

Outra vantagem é que durante os processos seletivos contamos com um pool de candidatos do Brasil inteiro (e até alguns de fora, como já foi o caso). Isso nos traz vantagem competitiva, pois temos maiores e melhores opções na hora de contratar”, avalia. Jorge Martins, sócio fundador da empresa de recrutamento e seleção Bullseye , concorda com João.

“Quando você oferece uma oportunidade de trabalho a um profissional e apresenta esse modelo de 4 dias de trabalho, estamos dizendo pra ele não que ele vá trabalhar menos, mas que com a competência dele será possível entregar o esperado pela empresa com um dia a menos. Com isso, ele terá mais tempo de descanso, mais qualidade de vida e vai dividir melhor o horário”, observa.

O especialista fala também, que olhando para o Brasil existem alguns pontos que precisam ser levados em consideração. O primeiro é a questão de infraestrutura. Isso porque será necessário desenvolver processos que sejam inteligentes, automatizados, com comunicações claras e objetivas e com uma linha de burocracia mais leve dentro das atividades do dia a dia das pessoas. Isso sem dúvida possibilitaria mais tempo para o trabalho, permitindo que esse modelo de menos dias seja adotado, mas sem perder a eficiência.

“É fundamental termos desenhos de processos e burocracia reduzida. Isso sem dúvida melhoraria muito a qualidade de vida das pessoas. Além disso, é importante nos perguntarmos quem definiu esse modelo de 5 dias por semana? Isso foi há muitos anos, mas hoje evoluímos muito com a ajuda de tecnologia que nos permite adotar outros formatos, pensando mais no desenvolvimento humano, sem deixar de lado os resultados que as empresas precisam alcançar”, conclui Jorge.

O modelo de cinco dias por semana foi introduzido por Henry Ford em 1926, que descobriu que a produtividade e o lucro aumentavam com semanas de 5 dias – até então, os trabalhadores tinham um dia de folga semanal, no geral. Outro exemplo foi a fábrica da Kellogg’s que reduziu os acidentes em 41% ao diminuir a jornada de horas. Embora os resultados sejam positivos, também existem desafios. É preciso que a organização seja muito bem feita para que não fique nenhum “buraco” no atendimento.

Na Crawly, é preciso combinar dentro das equipes quais serão os turnos de atividade de cada um. João explica que as equipes têm alguns colaboradores que trabalham de segunda a quinta e outros que trabalham de terça a sexta, por exemplo. “Assim garantimos que sempre teremos um mínimo de pessoas durante todos os dias da semana. Foi necessário também criar processos internos de intercâmbio entre projetos e de plantões rotativos, para que consigamos continuar a garantir disponibilidade total e irrestrita de suporte técnico aos nossos clientes que trabalham com semanas tradicionais”, fala João.

Para quem quer aplicar o formato tanto de home office como de jornada de trabalho de 4 dias na semana, a equipe da Crawly não só indica, como dá algumas dicas. “Home office em geral requer um nível de maturidade individual maior que o modelo tradicional, presencial. É necessário estar atento não somente aos critérios técnicos, mas também aos de personalidade – a equipe tem maturidade suficiente para lidar com modelo remoto?

As pessoas são individualmente responsáveis e autossuficientes? Existem pessoas na equipe que requerem uma atenção individual maior e que talvez tenham dificuldade em evoluir com a transição para um modelo remoto”, observa João.
Com equipes em diferentes estados, incluindo São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a Crawly encontra como um dos principais desafios a comunicação. Eles apontam que normalmente é mais “burocrática” em um modelo remoto do que no presencial.

“Não dá pra ir até a cadeira do colega e fazer uma pergunta, por exemplo. Adicionalmente, são necessárias ferramentas e processos de comunicação mais explícitos do que nas empresas presenciais”. Sobre o futuro, João acredita que não somente as pesquisas já mostram que são modelos mais econômicos, mais produtivos, escaláveis e sustentáveis, como também é tendência cada vez maior em relação à valorização da equipe.

“Estamos passando por uma era com índices recorde de stress e de outras doenças mentais, como ansiedade e depressão. Então adotar modelo home office ou um dia a mais de descanso na semana, ajuda a combater esses novos males da vida moderna e as empresas serão aos poucos obrigadas a perceber que a adoção de modelos humano-sustentáveis não é apenas para as campanhas publicitárias, é uma necessidade na nossa sociedade”, finaliza.

(Fonte e mais informações: Crawly)