As desigualdades sociais aumentaram no Brasil durante a pandemia de covid-19, e os indicadores de felicidade do brasileiro estão no menor ponto da série histórica.
De acordo com a pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o país atingiu, em 2020, a pior nota média de satisfação com a vida desde 2006. Já a desigualdade, medida pelo chamado índice de Gini, atingiu o patamar mais alto, batendo também o recorde de toda a série histórica no primeiro trimestre de 2021.
O estudo mostra que a renda média foi de R$ 1.122 entre janeiro e março de 2020, a R$ 995, no primeiro trimestre de 2021, o menor valor da série histórica, marcando, pela primeira vez, um montante abaixo de R$ 1 mil. Já o bem-estar social caiu 19,4%, entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2021, chegando a um novo piso da série. O índice de Gini, usado para avaliar a distribuição de riquezas de determinado lugar, passou de 0,642 no primeiro trimestre de 2020 para 0,674 no mesmo período de 2021, o que é considerado “um grande salto de desigualdade”.
Os brasileiros estão com mais raiva (19% para 24%, de 2019 para 2020) e relatam estar mais preocupados (56% para 62%), mais estressados (43% para 47%) e mais tristes (26% para 31%). Já quando o assunto é diversão, a percepção do brasileiro é de queda, de 72%, em 2019 para 66%, em 2020. Para o diretor do FGV Social e coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, as perdas materiais explicam a perda de felicidade, mas não são o único motivo. “Nosso dia a dia é muito difícil, em isolamento social, perda de entes queridos, tudo isso, para além da renda, ajuda a explicar essa perda da felicidade”, diz.
A medida geral de felicidade é dada por uma nota de avaliação de satisfação com a vida numa escala de 0 a 10. Essa nota chegou a melhorar em 2019, atingindo 6,5 pontos. Em 2020, no entanto, caiu 0,4 ponto, chegando a 6,1 – a menor pontuação da série histórica, desde 2006. A felicidade na pandemia também é desigual. Entre os 20% mais ricos, esse indicador aumentou de 6,8 para 6,9, de 2019 para 2020. Entre os 40% mais pobres, caiu de 6,3 para 5,5. Essa queda está concentrada na base da distribuição de renda brasileira, uma piora da desigualdade de felicidade.
A pesquisa também comparou os resultados com os de 40 outros países. Em média, a “nota de felicidade” ficou parada no restante do mundo, em torno de 6 pontos. “O que a pesquisa mostra é que, embora a pandemia seja um fenômeno global que afetou a todos os países, o Brasil tem um desempenho nesses aspectos subjetivos pior. A gente talvez precise repensar como a gente está lidando com a pandemia em termos de políticas, em termos de enfrentamento, enquanto ação coletiva”, diz o coordenador do estudo (ABr).