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Sem Igualdade não há Integridade, muito menos, Ética

em Denise Debiasi
segunda-feira, 10 de maio de 2021

Denise Debiasi (*)

O projeto de Lei n.º 88 (PSL 88) de 2009, que permite multar empresas que paguem salários diferentes a homens e mulheres, tendo como princípio a isonomia prevista na Constituição Federal, voltou ao congresso, para revisão, no mês passado.

De acordo com o projeto, aprovado na Câmara em 2011, a empresa deve compensar a funcionária alvo da discriminação com o pagamento de valor correspondente a cinco vezes a diferença verificada em todo o período da contratação (até o limite de cinco anos). No mês passado, quase dez anos depois, quando votado pelo Senado, o projeto teve seu texto alterado com a inclusão da palavra “até” antes do valor da multa, ou seja: a multa seria de “até” cinco vezes o valor da diferença, podendo ser menor.

O projeto retornou à Câmara, para nova apreciação, desta vez em em caráter de urgência e em meio a polêmicas nas esferas política e empresarial, questionando um avanço tão essencial para a promoção de uma sociedade mais justa, íntegra, ética e equânime, mas que alguns ainda argumentam, pode acarretar em retrocesso para as mulheres em termos de oportunidades de contratação.

Mas, apesar das crescentes iniciativas pela equidade de gênero, de acordo com os dados oficiais do IBGE, as mulheres ainda ganham 20,5% menos que os homens, mesmo quando muitas são o suporte financeiro da família. Isso, ao meu ver, ainda se deve a percepções preconceituosas quanto ao papel da mulher na sociedade, que muitas vezes ofuscam sua capacidade profissional, intelectual, de gestão e liderança.

Capacidades estas que tem contribuído, de forma vital, para a situação que vivemos. Em quase um ano e meio de pandemia, foram várias as notícias que evidenciaram a competência feminina em um momento de grande fragilidade social, em que muitas famílias sofrem perdas de ordem emocional e financeira.

Nesse contexto, tem sido essencial a resiliência e prontidão das mulheres na linha de frente, seja nos governos, como nos da Alemanha, de Merkel, e da Nova Zelândia, de Ardern, seja nos cargos de liderança em empresas e ONGs, em atividades essenciais como saúde e educação, e sobretudo na sustentação dos alicerces familiares e das comunidades.

As líderes neozelandesa e alemã exibiram firmeza nas medidas para conter o avanço do Coronavírus em seus países, arcando com ônus e bônus perante opinião pública e eleitorado. As medidas tomadas pela primeira ministra Jacinda Ardern, especialmente, fizeram da Nova Zelândia uma das nações mais bem-sucedidas na contenção da Covid-19.

Na Alemanha, mediante críticas às medidas preventivas mais duras, a chanceler veio a público reconhecer exageros e assumir responsabilidades por haver decretado restrições até mais rígidas do que o necessário em determinadas ocasiões, mesmo tendo tomado a decisão conjuntamente com governadores de 16 estados alemães.

Essa capacidade de se retratar publicamente e pedir desculpas à população por decisões tomadas com a melhor das intenções, foi interpretada por muitos alemães como uma demonstração positiva de tansparência e liderança, gerando aumento na credibilidade do governo.

Nas empresas, embora ainda minoria nos altos cargos executivos, cada vez mais as mulheres têm se sobressaído na gestão de crises com a mesma firmeza, transparência e ética. Além de conhecimento técnico, tais desafios demandam qualificações estratégicas como: visão de longo prazo, responsabilidade social, proatividade, inteligência emocional e soft skills para autocontrole, empatia, perspicácia, sensibilidade para acolher e expressar emoções, além de outras características da liderança feminina que facilitam os relacionamentos interpessoais na gestão de riscos e conflitos.

Nos hospitais, segundo o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), as mulheres representam 65% dos mais de seis milhões de profissionais atuantes no setor público e privado de saúde. As mulheres também são as protagonistas da educação brasileira. Pelo Censo Escolar de 2020, elas são maioria entre os docentes e gestores da educação básica.

Vale ressaltar também um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), constatando que,  empresas com maior diversidade de gênero na liderança apresentam melhoria nos resultados e na atração de talentos, impactando positivamente seu lucro. Com base nesses fatos e no crescimento das áreas de integridade dentro das empresas, diante da cobrança cada vez maior da sociedade por transparência e ética, torna-se evidente a necessidade da equidade de gênero, com mais oportunidades e menos entraves para as mulheres. E não apenas para reivindicar menos discriminação, mas, principalmente para incorporar as valorizadas habilidades “femininas” na gestão. Essas, sem dúvida, essenciais para a longevidade das instituições, através da probidade, melhoria da sua performance e exercício da sua missão social.

(*) Saiba quem é a nossa Colunista: Denise Debiasi é Country Manager e Líder de Investigações Globais e Inteligência Estratégica da BRG Brasil, braço local da consultoria americana Berkeley Research Group (BRG), presente nos 6 continentes e mundialmente reconhecido pelo expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativa, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte à litígios, entre outros serviços de importância primeira em mercados emergentes. Email: [email protected] | Site Corporativo: www.thinkbrg.com.br |Siga: www.linkedin.com/company/brg-brasil/


One comment on “Sem Igualdade não há Integridade, muito menos, Ética
    BIANCA DINIZ

    O mais admirável nesta leitura é a sensatez em que as informações e argumentos são colocados, não “puxa sardinha” para um feminismo desequilibrado…
    Simples: mesma função, mesmo serviço = mesmo salário, por que não?

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