Willian Kahler (*)
A semelhança do título acima com o do antológico livro “O amor nos tempos do cólera”, do escritor Gabriel García Márquez, não é mera coincidência.
Realista, o romance aborda o relacionamento entre pessoas no contexto latino-americano do Século XIX, permeado de problemas, como o surto de cólera, radicalização política e crises econômicas. É um cenário semelhante ao que o mundo vivencia neste momento. No entanto, ao invés do amor e da paixão intensa entre enamorados como a obra, este texto busca mostrar como a interação entre os seres humanos, mesmo num contexto de turbulência e dificuldades, também pode ser produtivo, sinérgico, multiplicar a resiliência, capacidade de superação e produzir bons resultados.
É o que constatamos ao analisar o case da Messem no ano que passou, um dos mais difíceis de toda a história. Estamos falando, sobretudo, de gente, enfatizando como é possível aumentar o engajamento de uma equipe em meio ao distanciamento social imposto pela pandemia. Fizemos isso, já em plena quarentena, aumentando os quadros de colaboradores em 50%. Os companheiros de trabalho que jamais interagiram presencialmente passaram a trabalhar remotamente com entrosamento, foco, cooperação e coesão, como se convivessem há muito tempo no mesmo espaço físico. Não dividem espaços físicos, mas ocupam a mesma dimensão de pensamento e propósitos.
Visando compartilhar essa experiência e ampliar nossa massa crítica para continuar aprendendo, é importante observar os desafios que tiveram de ser superados para se viabilizarem tais objetivos. Somos uma das maiores empresas de assessoria financeira do País, vinculados à XP Inc. Somos de Caxias do Sul, no interior gaúcho, onde iniciamos nosso negócio com uma equipe pequena e jovem. Há 13 anos no mercado, conquistamos a confiança de milhares de investidores. Hoje, temos mais de R$ 12 bilhões em custódia.
Sempre tivemos o propósito de ajudar a cuidar do futuro das pessoas. Mais uma vez, estamos falando de gente, antes de pensar em dinheiro. Isso nos faz acordar todos os dias. Tal alinhamento de sonhos fez com que, em pleno 2020 pandêmico, tivéssemos recordes de crescimento em todas nossas áreas, inclusive em captação de novos recursos. A pergunta do leitor é inevitável: como tudo foi possível num momento em que bons resultados eram mais do que improváveis? Resposta: porque somos focados no coletivo, tanto os clientes quanto os colaboradores.
Como sócio responsável pela área de expansão, fiquei preocupado. De que forma os indivíduos arriscariam fazer mudanças de carreira em um momento tão nebuloso? Como a equipe reagiria a tantas mudanças. Mas, como tudo na vida, existem dois lados. Acredito que as condições impostas pela pandemia aceleraram movimentos que já estavam delineados, como a disruptura tecnológica e a quebra de paradigmas quanto à distância física. Como tivemos origem no interior, acabávamos sendo muito conservadores, valorizando a presença física tanto com clientes quanto com nossos assessores de investimentos.
Percebemos, entretanto, que o mais relevante é a proximidade emocional e o interesse sincero no ser humano. Assim, unimos muito mais o time. Hoje com cinco escritórios, já tínhamos o desafio logístico de manter a proximidade com a distância geográfica. As restrições de 2020 nos provocaram a quebrar paradigmas. Identificamos que, por meio da tecnologia, conseguimos unir distâncias com baixos ônus, além de nos manter próximos dos nossos colegas e dedicarmos ainda mais tempo para escutá-los.
Mantivemos, assim, ações assertivas e mantivemos a cultura da empresa, fatores fundamentais para nosso crescimento. Visamos, também, promover iniciativas novas. Sempre conservadores em nossas decisões, começamos cada projeto devagar, para entender como funcionaria. Para entender o sentimento da equipe, realizamos duas pesquisas, executadas por empresa especializada. A primeira tinha como objetivo entender o comportamento e a percepção dos colaboradores quanto à pandemia e o home office.
A segunda avaliou a satisfação do time com a empresa. O resultado: novamente, fomos reconhecidos com o selo do Great Place to Work como uma das melhores organizações para se trabalhar no Brasil. Buscamos, ainda, sempre escutar todos com atenção. Então, desenvolvemos as ações práticas, como o auxílio de psicoterapia: os profissionais que identificavam dificuldades para se adaptar ou estavam com outros problemas, tinham direito a um subsídio para tratamento.
Depois, trouxemos uma série de especialistas para lives exclusivas sobre as maiores necessidades que a equipe nos levantou, dentre elas, como dividir o trabalho em casa, formas de lidar com ansiedade, treinamento de manejo de estresse e sessões de meditação. Promovemos, também, atividades que extrapolam o trabalho, convidando profissionais referenciais em assuntos distintos para realizar lives interativas, como um sommelier de degustação de vinho e um chef de cozinha para ensinar seis segredos em suas respectivas áreas.
Todas as iniciativas foram espontaneamente geradas pelo departamento de Recursos Humanos, com base no interesse genuíno no coletivo, tendo como resultado o crescimento dos negócios e a redução do turn over, desenvolvendo pesquisas em grupo, lives para se adaptar a nova rotina de trabalho e o auxílio psicológico. É muito bom saber que, mesmo distantes, seguimos juntos.
Para manter a coerência com a abertura deste artigo, encerro fazendo referência a outra obra de Gabriel García Márquez: estamos enfrentando a pandemia, em 2020 e 2021, “sem anos de solidão”. Detalhe: para nós, a troca do “c” pelo “s” no título não é uma questão ortográfica, mas filosófica!
(*) – É sócio-diretor da Messem Investimentos.