Sandra Morais Ribeiro dos Santos (*)
Conta-se certa história de um rei que teve um sonho, o qual o incomodou sobremaneira.
Mandou chamar os videntes e adivinhos de seu reino para ajudá-lo a compreender o desconhecido. O primeiro vidente entrou em sua presença, e após o rei fazer seu relato, interpretou da seguinte forma: Caro senhor meu rei, seu sonho significa o seguinte, cada dente seu que perderá, um dos seus familiares irá morrer. Indignado, o rei mandou açoitar o homem sem piedade com cem chibatadas.
Trouxeram-lhe o segundo vidente, que a após escutar o relato do monarca, pronunciou as seguintes palavras: Meu rei, este sonho é magnifico, pois mostra que viverás muito e sobreviverás a todos os teus parentes. O rei, feliz com a notícia, lhe deu cem moedas de ouro.
Um dos conselheiros, vendo tudo aquilo, perguntou ao segundo vidente: Como pode isso? Você disse a mesma coisa que seu antecessor, no entanto a ele o rei mandou castigar com cem chibatadas e a você recompensou? O vidente sorrindo lhe respondeu: Lembra-te, tudo depende da maneira de dizer.
Por vezes, não tomamos cuidado com nossas palavras, e elas se tornam açoites para nós mesmos. Comunicar-se é uma arte que podemos aprender, e é essencial em todos os relacionamentos humanos e em todas as instâncias da vida. Muitos são os que sofrem por não saberem se comunicar com eficácia. Comunicação é vida, é comunhão. E isso envolve muito mais do que simplesmente falar, mas a maneira correta de dar uma notícia ou falar algo.
O diálogo implica numa recíproca de palavras, de amor, de compreensão. É a base da vida. Impossível dialogar com alguém que não deseja ouvir e respeitar a opinião do outro. O protagonismo no diálogo é maléfico, é atroz, pois não deseja trocar ideias, mas debater, vencer, constranger, convencer e dominar.
Nestes tempos de comunicação virtual, de afastamentos temporais, somos desafiados a ultrapassar as barreiras das tecnologias da comunicação para ficarmos juntos, aliançados. Palavras ganham mais força, e como fazem falta o aperto de mão, o estar junto, o abraço e o café com os amigos e parentes. Tudo isso junto gera comunhão e vida.
Palavras nesse momento tornaram-se grandiosas onde o toque foi trocado pela imagem numa tela. Mesmo ditas distantes do outro, atrás de um computador ou celular, entretanto seus efeitos são sentidos como o são presencialmente, ou ainda mais. A barreira tecnológica nos dá uma falsa segurança de que estamos incólumes em nosso mundo, protegidos pela tecnologia, dentro de nosso espaço. Mas não.
Palavras continuam sendo palavras, e o cuidado com a comunicação nunca se fez tão necessário neste mundo gélido. Que maiores possibilidades de comunicação possam tornar-se em encontros mais eficazes entre nós, gerando vida, acolhimento, atitudes mais humanas para com o outro, empatia e solidariedade.
(*) – É professora da Área de Humanidades da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.