Alexandro Barsi (*)
O avanço do coronavírus pelo mundo provocou, em proporções parecidas, um aumento de empresas se dizendo ‘digitais’.
O momento que vivemos exigiu isso. Quem não estava neste mundo ou quem não estava ao menos preparado para entrar nele não teria como passar pela crise econômica que a Covid-19 provocou por todos os cantos. Mas de repente todo mundo passou a dizer que sim, que realizou a transformação digital da sua empresa. Era preciso afirmar isso. Mas é, de fato, uma verdade?
Falar em Transformação Digital é fácil. De uma forma bem ampla – e simplista – é dizer que a empresa se digitalizou, entrou para o mundo digital, disponibilizou seu produto ou seu serviço pela internet. Mas é só isso? Eu mesmo respondo: não.
Primeiro que uma transformação digital não tem como base única e exclusiva a tecnologia. Uma transformação digital passa pela Cultura e pelo Negócio. Então oferecer algo digitalmente com a mentalidade analógica é cilada.
Foi-se o tempo que as empresas definiam o que o cliente ia consumir. Hoje a decisão é dele. Hoje é ele quem molda como a empresa vai atender, com o que ela vai atender e o que vai oferecer. Hoje ninguém compra nada sem verificar a avaliação do produto na internet.
Não vai a um restaurante sem ver a quantidade de estrelas que ele recebeu. Não se hospeda em um hotel sem checar o que outros hóspedes andam dizendo… As empresas têm que ir para o digital porque o mundo está lá. E aí não é só oferecer entrega via delivery, é oferecer a entrega de uma experiência.
Não é só ter um canal de comunicação com o consumidor final, é falar a mesma língua que ele. Não é só ter um e-mail para envio de sugestões, é analisar cada uma delas e dar retorno. São muitas as soluções que as empresas podem adotar para se dizerem transformadas digitalmente. Mas são muitas as soluções que foram adotadas nesses últimos meses?
Em um período de crise, sem estimativa de reaquecimento da economia, será que as empresas pegaram mesmo o que tinham guardado para investir nessa transformação? Ou apenas fizeram o mínimo para conseguir atender durante o isolamento social e logo voltam às origens?
Quem aproveitou mesmo o momento para implantar mudanças de gestão, de diretrizes, de foco e de atendimento sai fortalecido dos tempos difíceis que vivemos. Mas quem, com tudo isso, ainda não aprendeu que é preciso se transformar, terá grandes problemas.
(*) – Formado em Engenharia de Computação, é pós-graduado pela USP em Gestão de Projetos e Processos, com especializações em Skill, Tools e Competencies pela Fundação Cabral e General Management pela Northwestern University, é CEO da Verity.