Ana Julia Büttner (*)
A moda é considerada um dispositivo social e uma forma específica de mudança.
O modo como coordenamos e usamos as roupas e acessórios permite uma comunicação pessoal, uma demonstração da nossa própria identidade. A autoimagem é considerada como um valor pessoal importante nesta construção, escolhemos nossos produtos para refletir quem realmente somos.
Além disso, usamos nossas roupas e acessórios para pertencer a certos grupos sociais ou nos distinguir dos outros no local em que estamos. Então, pode-se dizer que a moda é responsável por transmitir significados, relacionados com os sistemas de valores de dimensão social. É por meio dela que nos expressamos em busca de individualização, singularidade e diferenciação no decorrer do consumo de um produto novo, um objeto que é fundamental para a dinâmica da moda.
Dito isso, estamos passando pela pandemia que alastrou-se em diversos países e fez com que a dinâmica da economia, da moda e do mundo se modificasse. O comportamento humano mudou. As reuniões de trabalho, as compras, as aulas etc. Os ambientes em que agora estamos são todos online. Uma revolução digital rápida.
Logo nos vem diversas perguntas em mente: Como fica a construção da imagem pessoal por meio da moda e que tanto mostra da identidade do indivíduo? E distinção social por meio da compra e uso de objetos novos que são fundamentais para a moda? E o que nós vamos querer comprar? E a produção de novos produtos? Como fica essa cadeia da moda? Será que a dinâmica da moda vai ter que mudar?
Diversos questionamentos ainda sem resposta, que nos deixam inquietos.
A revolução digital veio para ficar. É por meio das redes sociais que podemos mostrar para os outros quem somos e até mesmo quem desejamos ser. E o consumo nos posiciona diante dessa sociedade, agora ainda mais digital.
A indústria da moda terá que rever os seus processos da produção até a venda para o consumidor final. Mas e o porquê de tudo isso?
Nos anos 2000, a China e a Índia, entre outros países, invadiram e dominaram nossos processos de produção, tanto de tecido quanto de roupas e acessórios. Logo, fábricas de tecidos e confecções fecharam suas portas no Brasil. Então, chega 2020 e tudo muda outra vez. Não podemos mais importar.
Como vamos ter produtos novos para vender se as fábricas brasileiras que sobreviveram não suportam tanta demanda? Será que surgirão novas? Será que acontecerá uma valorização da mão de obra brasileira? Será que vai chegar o momento em que vamos valorizar o que é nacional, sustentável e feito pelo pequeno produtor?
Pensando no problema de saúde, será que vamos nos sentir seguros ao provar uma roupa ou um acessório que recebemos em casa ou até mesmo na loja? Como lidar com tudo isso em meio a algo que não podemos controlar? Já existem tecidos desenvolvidos por nós, brasileiros, que bloqueia a transmissão de vírus e bactérias para os usuários. Mas não são todos os tecidos que têm essa propriedade. E quanto isso custará, de fato, para o consumidor final?
Uma coisa é certa: o varejo de moda tende a ser cada vez mais digital e multicanal. As marcas de moda precisam olhar para o público não só como consumidores, mas como pessoas apaixonadas e defensoras das marcas. Oferecer um tratamento humanizado, individualizado deixa de ser um diferencial e passa a ser indispensável. Não somos apenas mais um cliente.
Somos apaixonados pela moda e queremos dizer para a sociedade quem nós somos por meio dos produtos e imagem que as marcas oferecem.
(*) – Pós em Moda e Criação na Faculdade Santa Marcelina, é docente nos cursos de Negócios da Moda e Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi.