O blockchain nada mais é do que um banco de dados público mundial, onde podemos nos interconectar com todos os participantes de um documento, transação e etc. Por meio do processamento múltiplo de servidores descentralizados, é garantido que a modificação de um dado seja praticamente impossível. Uma das antigas questões que nos levaram à democracia foi a centralização do poder acumulado por algumas empresas, pessoas e governos. Porém, continuamos a encontrar problemas que já estavam presentes nas administrações anteriores, como a dificuldade dos governos em controlar e monitorar as informações de pessoas, fazendo com que os dados passassem a ser o ativo mais valioso do mercado.
Apesar dos bancos brasileiros serem considerados os mais seguros do mundo, as fraudes anuais superam um bilhão de reais, logo torna-se uma tarefa difícil destacar que um banco de dados públicos que registre com toda transparência qualquer transação bancária poderia ser de grande ajuda para as instituições financeiras, porque se por um lado o processamento descentralizado ofereceria proteção no combate à fraude, por outro, destacaria evasões offshore, sonegações, entre outras ações ainda muito subjetivas e pouco observadas pelo Banco Central.
Após casos escandalosos dos principais unicórnios americanos no uso indevido de dados pessoais, fato que incentivou uma evolução crescente nas leis de proteção de dados e, consequentemente, a abertura dos serviços bancários, seguimos observando a luta do cartel do setor bancário e varejo queixando-se de um outro suposto cartel das transportadoras de valor que, prontamente reagiram com um poderoso lobby de investidores estrangeiros exigindo a criação de uma legislação que proíba os bancos de operarem também neste mercado.
Outro excelente exemplo de que a “guerra dos cartéis” está longe de acabar é o caso da Lava Jato o qual uma das empreiteiras condenadas comprou um banco em um paraíso fiscal para gerenciar e monitorar suas operações estruturadas avaliadas em cerca de 12,5 bilhões de reais. Com isso, é evidente que transparência e descentralização são palavras que não correspondem a esses modelos de negócios e somente com muita luta conseguiremos ter segurança quanto ao uso dos nossos dados financeiros.
Por isso, o blockchain é um direito à transparência que, assim como todo direito, existe para trazer proteção. A democracia no Brasil existe a apenas três décadas e hoje tem mais fintechs do que bancos, fenômeno que só levou três anos. Assim, um novo lobby pode começar a existir e brigar pelos nossos direitos contra estes cartéis, demonstrando que a tecnologia é um meio e não fim para cobrarem tanto em tarifas superfaturadas.
(Fonte: Leandro Rodrigues Dias é pós-doutor em economia e CEO da AkinTec, um Openbanking em Blockchain focado em transformar micro e pequenos comércios em agências bancárias).