A busca por fazer a diferença neste momento delicado em que o país vive atualmente levou a indústria têxtil Delfim a alcançar um feito e tanto: tornou-se a primeira empresa brasileira a produzir um tecido que é capaz de matar o coronavírus SARS-COV-2 em menos de dois minutos por meio do contato. A inovação nasceu da inquietação de Mauro Deutsch, presidente da companhia, que, acompanhando as primeiras notícias da disseminação do vírus na China e depois pelo mundo, sentiu que precisava fazer algo. “Fiquei me perguntando como nós poderíamos contribuir para passar por essa pandemia”, conta.
Um dos primeiros passos foi a busca por médicos infectologistas do Brasil para trocar informações e encontrar um caminho para tentar desenvolver algo diferente que pudesse ajudar as pessoas. O resultado dessas conversas foi a ideia de criar um tecido com propriedades bactericidas e fungicidas, além de impermeável, com efeito repelente da água. A partir daí, deu-se início às buscas por um parceiro nacional que produzisse um composto com essas características que pudesse ser adicionado ao tecido. Estava nas mãos da startup Nanox, que até então utilizava o produto para outras propriedades.
As duas empresas uniram suas expertises e iniciaram a fase de testes no final de fevereiro deste ano para encontrar o tecido adequado com a aplicação da nanotecnologia a base de prata. “Criamos uma fórmula com micropartículas capazes de inativar o novo coronavírus e coube à Delfim desenvolver, com base no uso dessa tecnologia, um ‘super tecido’ a partir de um processo industrial altamente qualificado, que viabilizou uma solução efetiva para uso da população”, explica Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox.
Tendo por objetivo viabilizar o novo produto, a Delfim previu um investimento na ordem de R$ 2 milhões, o que envolve, além dos testes em laboratório e a consultoria externa para desenhar o tecido e encontrar as possíveis aplicações, uma significativa adaptação de maquinário.
“Fizemos vários testes para entender o tipo de fio, a malha adequada, sua gramatura para chegar ao resultado adequado”, ressalta Mauro. Para ajudar nessa missão, contou ainda com o suporte de especialistas do setor têxtil na Alemanha, país de origem das máquinas da indústria brasileira.
O tecido, que ganhou o nome de Delfim Protect, é composto de 100% poliéster e tem como diferencial a tecnologia empregada na construção dos fios e na aplicação da nanotecnologia. Mas até chegar nele, a Delfim enfrentou dois grandes desafios: provar sua eficiência bactericida e sua capacidade de filtração bacteriana. Nesta última, alcançou mais de 93%, índice bem superior ao solicitado pelas normas ABNT.
Com o produto definido, as primeiras produções já foram feitas e comercializadas para alguns clientes da Delfim – o varejo têxtil – há cerca de três semanas. Nessa primeira etapa, a indústria operou com uma capacidade de produção de 60 mil metros do Delfim Protect como parte do projeto piloto, mas está preparada para aumentar a escala quando conforme a demanda de mercado. “Temos a possibilidade de produzir 1 milhão de metros por mês”, afirma Mauro.
O novo tecido da Delfim pode ser utilizado em várias frentes, desde equipamentos de EPIs, como máscaras, jalecos, toucas, entre outros, até mesmo para a confecção de aventais, toalhas para restaurantes, babadores e trocadores para bebês, entre outras, o que deve abrir um mercado extenso para o produto.
Para o presidente da Delfim, esse é um momento particular na história da indústria, que tem mais de 60 anos de atividade no país, 140 colaboradores diretos e está em sua terceira geração familiar. “Essa é a primeira inovação dessa nova geração que comanda a Delfim no mercado brasileiro. Estamos tendo a oportunidade de aprender muito com essa crise, pivotando em várias frentes. Além de criar um produto pioneiro, que foi do fio ao consumidor final, fomos umas das únicas do nosso setor que não demitiu um colaborador sequer nessa fase difícil e mantivemos todos os empregos. Para nós, isso é motivo de muito orgulho”.
Com um custo de produção mais alto do que os demais tecidos produzidos pela empresa – o carro-chefe da empresa é o tule – o Delfim Protect está sendo comercializado com preço compatível ao de tecidos convencionalmente usados para esse propósito, como máscaras, de acordo com Mauro. “Nosso ganho é no aspecto social, não financeiro. Queremos ajudar nossos clientes na venda do produto e a sociedade a barrar de vez essa pandemia”, ressalta.
Por esse viés social, um dos planos da Delfim é estender o produto para projetos que ajudem costureiras que neste momento estão sem emprego. “Pretendemos doar uma quantidade de tecidos para as associações e ajudar essas profissionais com dicas de design de máscaras para que elas produzam itens de qualidade”, enfatiza.
Se depender da empresa, o Delfim Protect veio para ficar no mercado brasileiro. “O uso de máscara vai se tornar um hábito, mesmo no pós-pandemia – ela será um acessório de moda. Além disso, a aplicação do tecido será estendida para outras funções, que, num primeiro momento devem se concentrar no setor de saúde, mas depois será ampliada para o consumo em geral”, conclui.