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Investir em ciência, inovação e produtividade para se adaptar ao ‘novo normal’

em Destaques
terça-feira, 23 de junho de 2020

O mundo que se descortinará após o pico de contágios da COVID-19 será muito diferente daquele de antes da pandemia. E para adaptar-se a essa nova situação, os países precisam, além de reduzir o ritmo das infecções, usar o período de confinamento para implementar ações que assegurem uma retomada segura e sustentável. É o que sugere o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no documento Respostas à COVID-19: ciência, inovação e desenvolvimento produtivo.

“Não basta reabrir, é preciso planejar. Os pequenos restaurantes, por exemplo, precisam de fôlego para atravessar este período de portas fechadas, mas também necessitarão suporte para se adaptarem ao fato de que, na reabertura, terão de atender menos clientes por vez, já que a necessidade de distanciamento deve perdurar, e vão precisar competir cada vez mais pelo público de maneira online”, afirmou Morgan Doyle, representante do BID no Brasil.

“O ponto positivo é que diversos países da região, incluindo o Brasil, já estão introduzindo iniciativas para responder a alguns desses desafios. O nosso objetivo é difundir essas ideias e estimular a adoção de medidas que enfrentem os impactos urgentes e de médio prazo causados pela pandemia em diversos setores”, complementou Doyle.

O documento também destaca a importância do investimento em ciência – historicamente baixo na América Latina e Caribe – e projeta que, provavelmente, os grandes avanços no combate à pandemia não virão da região, mas de países com melhor infraestrutura científica, coordenação mais efetiva entre agentes públicos e privados e marco regulatório consistente.

Por isso, a publicação recomenda que, como aprendizado, a região perceba que capacidades científicas fortalecidas são cruciais para saídas mais velozes ou menos traumáticas para crises desse tipo, com benefícios sociais e econômicos evidentes. O estudo destaca ainda que o processo de recuperação econômica deve também promover claramente, e inclusive com mais força, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social.

Com exemplos de ações adotadas não só na América Latina e Caribe, mas também em outras regiões, a publicação afirma que ainda há incertezas sobre a duração da pandemia e a extensão dos seus impactos. E destaca que os ministérios da economia ou da indústria, bem como os de ciência e tecnologia, têm papel preponderante para os desafios e as respostas nas áreas da ciência, da inovação e da cadeia produtiva:

. Ciência e tecnologia: entre outros desafios, o setor precisa de financiamento ampliado e ágil para gerar conhecimento para enfrentar a pandemia. A publicação recomenda também reforçar o financiamento a longo prazo, com estímulo à ciência aberta, de dados e com colaboração regional. Como exemplo no segmento, cita a Coreia do Sul, que aprovou em menos de um mês após a detecção do primeiro caso de COVID-19 um kit de diagnóstico para a doença.

. Inovação e startups: com muitas incubadoras e espaço de coworking fechados e com dificuldades financeiras, o setor tem capacidade de prover soluções para a saúde desde que haja financiamento rápido e em escala para startups inovadoras e incentivo ao desenvolvimento e aos testes dessas aplicações. Um dos exemplos trazidos na publicação vem do Chile, onde uma plataforma criada com apoio do BID conecta engenheiros e projetistas a médicos e membros do Ministério da Saúde local para acelerar a criação de respiradores mecânicos.

. Desenvolvimento produtivo: diante da redução da demanda, da dificuldade de obtenção de insumos e de falta de liquidez, em especial nas PMEs, o documento destaca as medidas de suporte financeiro e de digitalização dos negócios como medidas para atravessar a crise. E recomenda a adesão de protocolos de segurança sanitária para a fase de reabertura gradual do comércio e a adaptação da produção para itens que terão maior demanda – como insumos de saúde. O Brasil é citado na publicação, que destaca os esforços do Sebrae para auxiliar pequenos empresários a emitir nota fiscal online e a aprender a fazer marketing digital.

Além de desafios e soluções concretas, a publicação também propõe quatro pontos de reflexão para a formulação de diretrizes públicas para aliviar a crise causada pela covid-19:

  1. É preciso equilíbrio entre apoio urgente às empresas e ações para crescimento futuro: sem financiamento agora, muitas empresas não sobreviverão; mas sem apoio para a readequação aos novos tempos, a recuperação será mais lenta do que o desejado.
  2. Infraestrutura local é importante: a crise é global, mas os desafios são respondidos também em nível local. A pandemia mostrou a importância de cada país dispor de capacidades para teste e até monitoramento digital disponíveis e compatíveis com as realidades e legislações regionais.
  3. Ecossistemas de inovação maduros respondem melhor: países em que as redes de inovação têm maior solidez e diálogo com governo, bancos e indústria têm dado respostas mais contundentes diante desta pandemia.
  4. Oportunidades para transformação: o contexto atual tem acelerado a digitalização de governos e economias e é também a chance de, no apoio à retomada, promover modelos socioeconômicos mais sustentáveis.

Fonte e mais informações: (www.iadb.org).