José Carlos Semenzato (*)
Em mais de 30 anos como empreendedor, passei por muitas crises. Nos anos 1990, cheguei a quebrar.
Mas hoje, quando olho para trás em busca de um exemplo que possa inspirar soluções neste momento de pandemia, não encontro. Essa crise, de fato, é muito diferente das outras. Para começar, ela chegou de modo muito rápido, sem que pudéssemos nos preparar. E, mesmo que tivéssemos tempo de preparação, creio que teríamos problemas do mesmo jeito. Não é segredo para ninguém de que nos falta a cultura do planejamento de médio e longo prazo.
O empresário brasileiro, de modo geral, precisa trabalhar melhor sua gestão e seu planejamento financeiro, exatamente para estar mais bem alicerçado para enfrentar momentos difíceis como este. Agora, porém, não é hora de o empresário em geral lamentar a falta de reservas. É preciso ser pragmático e buscar soluções para manter o negócio vivo no pós-pandemia. Não é hora de abandonar os seus sonhos.
Aqui cabe um parêntese. Em momentos de dificuldade, sempre pensei de forma objetiva: se tenho um problema, decido empacotá-lo e deixá-lo de lado para resolvê-lo mais adiante. Considero que, enquanto estiver vendendo, não tenho verdadeiramente um problema. A lógica é simples: com recursos entrando no caixa, em breve o dito problema poderá ser desempacotado e solucionado. A questão no momento é que praticamente não há venda. Logo, temos, sim, um problema. Fecha parêntese.
Para sobrevivermos a essa crise, tenho recomendado aos franqueados da SMZTO Holding de Franquias que montem um colchão de sobrevivência de 90 dias. Ou seja, reúnam recursos financeiros para bancar ao menos três meses sem a entrada de qualquer receita.
É claro que este é um cenário negativo. Mas o lado bom de se trabalhar com um cenário negativo é que, caso a crise dure menos – e tenha impactos menores – do que o esperado, sairemos dela com uma visão otimista.
Não uma visão de terra arrasada, mas sim a visão de quem, mesmo diante de tamanhas dificuldades, conseguiu organizar-se financeiramente e, ufa, seguir vivo no mercado. Tínhamos grandes objetivos para 2020. Mas, no atual cenário, se igualarmos os resultados de 2019, poderemos considerar isso um excelente desempenho. Aos empreendedores brasileiros, sugiro que trabalhem com esta meta. E o que vier além disso será muito bem-vindo.
Na minha opinião, a primeira medida a ser tomada por qualquer empresário agora é “sentar em cima do caixa” e cortar todos os gastos possíveis. É preciso estudar os pacotes de incentivo financeiro do governo – cortes de impostos, empréstimos a juros baixos etc. –, protelar (quando possível) os contratos com fornecedores e renegociar aluguéis com os shoppings e com os donos de lojas de rua.
Ressalva importante: é o momento de todos se ajudarem e não pensarem em tirar proveito da situação. Assim, quando for renegociar o aluguel, por exemplo, não peça logo de cara seis meses de carência. O dono do imóvel também tem suas despesas. Negocie mês a mês, à medida em que a crise for avançando. Assim, a renegociação será positiva para todos os atores envolvidos – não só para um lado.
Além de reduzir as despesas, é a hora da criatividade para tentar manter alguma receita – ainda que muito inferior à de tempos normais. E cada segmento precisa buscar uma solução que lhe seja mais adequada. Fazer promoções, oferecer entrega grátis e ligar para o cliente para cultivar o relacionamento são ações que podem fazer a diferença. Quem presta serviços pode acionar os canais virtuais de venda para seguir negociando – é claro que o serviço propriamente dito só será prestado após a pandemia. Mas o importante é manter um fluxo de entrada de recursos em caixa.
Redes de ensino podem apostar na educação à distância. Já as redes de alimentação precisam apostar no delivery. Ainda que o faturamento seja muito menor do que em meses normais, o valor que ingressar ajudará a manter a folha de pagamentos. Aliás, de todos os itens da coluna “despesas” que qualquer empresário mantém em sua contabilidade, o salário dos colaboradores é o mais importante e precisa ser priorizado. Mantendo os funcionários será possível retomar a operação daqui a um, dois ou três meses, quando a crise for embora e a economia começar a andar novamente.
A decisão de demitir colaboradores nesse momento seria uma catástrofe não só pelo aspecto social, mas também para a saúde das empresas pós-pandemia. Afinal, uma rede conseguirá voltar a operar normalmente daqui a 60 ou 120 dias sem o seu capital maior, que são os profissionais treinados e altamente capacitados nas mais diversas funções? Definitivamente, a resposta é não. Profissionais capacitados não são como peças de um carro, que podem ser trocados da noite para o dia sem qualquer efeito negativo. Ou seja, salvar as pessoas hoje significa salvar o seu negócio depois da crise. Então, salve as pessoas para salvar seu negócio.
(*) – É Presidente do Conselho da SMZTO e um dos investidores do programa de empreendedorismo Shark Tank Brasil, do Canal Sony.