Por Geraldo Nunes
O coronavírus tem características diferentes da Gripe Espanhola que assolou o mundo em 1918.
O causador daquela pandemia foi o vírus Influenza H1 – N1, hoje um velho conhecido que pode ser facilmente combatido por antibióticos e vacinas.
A pandemia verificada há mais de 100 anos, chegou no Brasil trazida por navios provenientes de Portugal trazendo passageiros infectados também em outros países do continente europeu.
Nunca houve um registro definitivo sobre o número de vítimas, estimativas apontam para quase 100 milhões de mortes no mundo todo, cerca de 5% da população de todo o planeta na época.
No Brasil foram em torno de 30 mil pessoas contaminadas, inclusive o presidente eleito Rodrigues Alves, que morreu vítima da gripe dias antes de tomar posse.
Assumiu em seu lugar, no início de 1919, o vice-presidente Delfim Moreira que, obedecendo à constituição vigente, convocou novas eleições para quatro meses depois.
No novo pleito, o candidato paraibano Epitácio Pessoa, foi eleito presidente da República, governando o País até 1923.
Até agora, em 2020 -mês de março- foram registrados casos do também chamado Covid-19 em 107 países.
Números atualizados até essa data apontam para 4 mil mortes no mundo, a maior parte na China.
Wuhan, uma cidade chinesa do tamanho de São Paulo, com mais de 10 milhões de habitantes, segue mantida em isolamento desde 23 de janeiro.
O governo chinês não tem dado detalhes dos procedimentos de isolamento da população embora o presidente daquele país, Xi Jinping, tenha visitado a cidade epicentro do coronavírus recentemente.
Na Itália números também assustam com a elevação de 463 casos para 631 em 24 horas.
Os efeitos da Gripe Espanhola foram devastadores, porque a gripe em 1918 chegava de forma violenta, sem tempo até para tratamento.
Febre alta, depois sangramento pelo nariz ou pelos ouvidos e em alguns casos, os passavam a ter cor azulada pela falta de oxigênio”, informam jornais da época.
Noticiários também diziam que pessoas que sentiam mal pela manhã, imediatamente morriam no período da tarde.
Não havia ainda antibióticos, a penicilina só seria descoberta dez anos depois.
Uma característica da Gripe de 18, entretanto, permanece intrigante: o ataque do Influenza costuma ser mais forte em crianças e idosos, que possuem sistema imune mais frágil.
Só que na ocasião, as principais vítimas eram adultos jovens, tanto civis quanto soldados no front, visto que acontecia na Europa, a I Guerra Mundial.
Uma hipótese é que, justamente por ter uma imunidade mais proativa, a resposta do organismo jovem era mais vigorosa ao desempenho do vírus naquele tempo.
Por isso acontecimentos trágicos entraram para a história também da cidade de São Paulo.
Não havia mais lugares para sepultar tanta gente, o que levou a prefeitura a construir às pressas o cemitério São Paulo, localizado na Rua Cardeal Arcoverde.
Faltaram até coveiros, porque muitos deles após tantos enterros. também ficaram doentes e morreram.
Nascido em 1907, o senhor Waldemar Rossi nos concedeu uma entrevista de reminiscências, em 1994, quando tinha 87 anos.
Dono da antiga loja de discos Brenno Rossi, ele nos disse ter superado a gripe espanhola por ter sido obrigado a tomar doses e mais doses de Emulsão Scott, um remédio recomendado pelos pais.
“De gosto horrível, feito à base do óleo de fígado de bacalhau, eu ingeria aquele remédio sob a ameaça de chinelos”, contou.
A comediante Dercy Gonçalves disse certa vez, ter escapado da gripe de 1918 pelo fato de ter subido em um limoeiro e chupado durante um dia inteiro todas as frutas que nele havia.
Municiada de vitamina C, Dercy resistiu bravamente à Gripe Espanhola e seguiu forte e saudável pela vida até morrer de velhice aos 101 anos.
O Covid-19, que pode causar infecções respiratórias graves além da pneumonia, tem dado mostras de ser violento.
No Brasil houve até agora 52 casos confirmados.
Desse total, cinco estão internados e, segundo o Ministério da Saúde, os pacientes estão em sete Estados e no Distrito Federal.
A medicina e a tecnologia em 2020 estão, obviamente, muito à frente do que se tinha em 1918, por isso, apesar dos números não deve haver pânico, mas a luz amarela de alerta está acesa.
Aguarda-se para breve o surgimento de uma vacina, laboratórios em todo o planeta trabalham nesse sentido.
Com paciência e prontidão seguiremos aguardando uma solução que previna e proteja a todos.