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Qualidade e segurança dos alimentos precisam estar atentos aos padrões do mercado globalizado

em Manchete Principal
segunda-feira, 02 de março de 2020

Luiz Henrique Romagnoli

Todas as fases da cadeia de produção e distribuição de alimentos devem ser controladas por meio da regulamentação e fiscalização para que o consumidor tenha acesso a comida saudável e de qualidade. Isso vale desde os gigantes do agronegócio até os pequenos produtores, da industrializa de ponta até os mais bem intencionados orgânicos. A boa notícia é que a legislação brasileira está acompanhando o que existe de mais avançado no planeta.

A avaliação é do especialista em segurança de alimentos, Claudio Iório, diretor associado da BRG Brasil. “Nossa legislação está cada vez mais alinhada com a globalização. Isso é uma tendência. Tem países mais evoluídos, mas a certificação em normas internacionais têm sido um requisito muito importante para a exportação. E quando a empresa faz uma certificação, além da legislação brasileira, tem de cumprir a legislação do país pra o qual será comercializado o produto. “Isso acontece para a matéria prima também. As grandes multinacionais pedem aos seus fornecedores estas certificações reconhecidas internacionalmente. Isso amarra tudo que é preciso para manter a qualidade. É uma pratica de mercado”.

Claudio Iório, especialista em segurança de alimentos
e diretor associado da BRG Brasil. Foto: Johanes Duarte/JEN

Claudio Iório contou em entrevista ao Jornal Empresas e Negócios, que os padrões do mercado globalizado exigem processos de avaliação desde o campo até a mesa.

O trabalho começa a partir da agricultura até a industrialização do alimento, passando pelos processos até chegar à mesa do consumidor. Todos os aspectos da qualidade do alimento são analisados, com avaliação de risco das possíveis fontes de contaminação ao longo da cadeia produtiva. Com todas as ferramentas normas e regulatório pra apoiar a empresa nesta avaliação.

Mas ele acrescenta que a atenção se estende aos fornecedores e todas as partes do processo que apoiam a empresa. “Embalagens que compõem o produto, coadjuvantes de tecnologia que as vezes não saem na formulação do produto, por exemplo, catalizadores de processo, e também aos equipamentos de processamento”.

Nesta extensa cadeia produtiva a necessidade de controle vai até a comercialização: “Avaliação do produto na prateleira, sua refrigeração, como ele é exposto ao consumidor. A rotulagem que é a divulgação do produto”. E seguem em outras áreas como o preparo, boas práticas no trabalho das cozinhas de restaurantes de refeição coletiva. E vai até as dietas enterais para hospitais. “elas envolvem um público específico, como pacientes imunodeprimidos, que têm sua especificidade no tipo de contaminação que possa haver neste produto”.

Para apoiar as empresas em todos os processos de controle a BRG Brasil, empresa da Berkeley Research Group, abre sua gama de serviços com consultoria e formação voltadas à Segurança de Alimentos, Food Fraud e Food Defense.

Foto: pressphoto/Freepik

LEGISLAÇÃO E NORMAS

A gestão de qualidade e segurança de alimentos precisa estar atenta não apenas a legislação do país, mas também a normatização, como explica Claudio Iório:- Quando a legislação não acompanhas as mudanças que acontecem a todo momento no mercado global, existe a normatização, conjuntos de normas de qualidade e segurança de alimentos. Hoje há um fórum global GFSI- Iniciativa Global para Segurança de Alimentos – que se reúne pelo menos uma vez por ano para discutir as tendências no mundo inteiro. A norma é uma adoção voluntaria, não é como a lei, obrigatória em cada país.

Claudio Iório prossegue: “Tradicionalmente havia um controle de qualidade voltado apenas para o produto então se enxergava todas as contaminações inerentes da cadeia como acidentais. Então se há probabilidade de contaminação por agrotóxicos, seria feita uma avaliação de risco naquele grão ou fruta pra ver se no final da cadeia este problema ia aparecer”.

FRAUDE E SABOTAGEM

Só que as coisas tem evoluído muito com esta questão de globalização. Existem outros fatores importante como contaminação proposital. É alguém que intencionalmente, por terrorismo ou um colaborador descontente, gera uma contaminação do produto. Uma sabotagem. Então as normas que cobram um sistema de gestão para mitigar este risco ao longo da cadeia.

A fraude não é necessariamente uma contaminação, mas uma substituição para ganho econômico.

Além da contaminação proposital, pode existir a fraude, que se apresenta de várias maneiras: “A fraude não é necessariamente uma contaminação, mas uma substituição para ganho econômico. Ocultar alguma informação como prazo de validade, substituir um componente, colocar óleo de soja no azeite de oliva porque é mais barato, ou colocar outra substancia derivada de açúcar no mel, por exemplo. Isso pode não significar uma questão de segurança de alimentos, mas você descaracteriza o produto. O consumidor pode nem sentir, mas isso é uma fraude.

AGRICULTURA E AGROTÓXICOS

No início da cadeia da produção alimentar está a agricultura. Esta área está bastante bem regulamentada segundo Claudio Iório. “Precisamos analisar que todos estes princípios ativos são necessários na lavoura porque aumentam a produtividade, previnem o ataque de pragas, que é uma necessidade para suprir a alimentação na população”.

O que se espera é o controle do agricultor. Quando se aplica um pesticida, tem um tempo de biodegradabilidade. É o prazo de carência quando ele é aplicado na concentração certa. É feito um estudo toxicológico. O receituário diz após quantos dias pode ser iniciada a colheita. Depois deste tempo o pesticida já se degradou e está dentro de um limite residual permitido para consumo. E não terá nenhum efeito adverso a saúde.

Para o especialista o país já tem tecnologia suficiente para atender à toda gama da agricultura. “O Brasil é um celeiro, muitas terras para plantação tem uma agricultura desenvolvida. Os receituários para aplicação de produtos são testados internacionalmente. E além das empresas produtoras há entidades do setor e o ministério da Agricultura atua bastante”. Existem vários controles, por exemplo o procedimento de, quando o agricultor compra o produto ter de devolver o rótulo. “O ministério tem um controle do que saiu e o que volta e como foi utilizado na agricultura”.

FISCALIZAÇÃO

Sobre a fiscalização, Claudio Iório traça um quadro realista: “Os ministérios da Agricultura e da Saúde atuam na mitigação. Nada é 100%, não se pode prometer isso. A mitigação trabalha com estatística e atua onde pode haver maior possibilidade de recorrência do problema. Atua com amostragem para entender as tendências”. Ele avalia que a fiscalização no país atinge a todos os tamanhos de produtores. “Na inspeção de origem animal, por exemplo, é obrigação do ministério estar em todas as escalas, pequenos e grandes negócios’

SEGURANÇA ALIMENTAR E SEGURANÇA DE ALIMENTOS

Claudio Iório chama a atenção para a sutil diferença dos nomes de duas áreas diferentes: ‘Segurança alimentar” para a questão de disponibilidade de alimentação para a população e “Segurança de alimentos” é o termo usado para a análise de contaminação do alimento. – Cada vez mais tem aumentado tanto a disponibilidade do alimento quanto a sua qualidade e segurança. Isso é um fato. O Brasil é um grande produtor e nós temos investido em alta tecnologia. Os frutos que a gente colhe são a melhora do acesso ao alimento de qualidade, os custos mais baixos. O aumento da expectativa de vida diz tudo” completa.

DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS E O HORMÔNIO NO FRANGO

Foto: Portal Suínos e Aves

Claudio Iório lamenta que na população brasileira haja tanta desinformação sobre o assunto alimentação. Quando não a veiculação de “fakenews”, com fatos deliberadamente adulterados. – Na agricultura, há muitas versões na mídia de que o agrotóxico é o vilão da história como produto químico. Na verdade, temos que avaliar. Tudo na cadeia de produção tem que ter o controle. Todos os agrotóxicos aprovados pelo Ministério passam por uma avaliação, são testados quando ao residual permitido para cada tipo de agricultura. Então há produtos e quantidades testados para soja, milho, arroz, pimentão….

Outra meia verdade, segundo Iório é sobre os alimentos orgânicos: “é mais saudável? Sim, existe uma saudabilidade. Mas se não houver controle, ele pode gerar uma contaminação. A obtenção do alimento orgânico envolve adubação com esterco, que pode vir de uma cama viária. Se este adubo não passa por um processo de recompostagem, pode inserir um coliforme patogênico fecal no vegetal, ser consumido e gerar graves doenças. Já houve registros”.

Um caso famoso também é a adição de hormônio no frango. O especialista é enfático: “Hormônio é muito caro. A produção não paga o valor. Se há bons frangos é porque existem matrizes que garantem uma produtividade boa e esta carne é segura. Com todos os controles. São empresas grandes que fazem este controle. E o Ministério da Agricultura está envolvido nisso antes e depois do abate”. Claudio Iório conclui propondo: “Cabe veicular muita informação ao consumidor”.