Herodoto Barbeiro (*)
Não é fácil fazer uma campanha para presidência da república. Ainda mais quando o adversário é um militar, ainda que aposentado.
Certamente ele tem o apoio dos colegas de farda e a visão que só os militares podem governar o Brasil. Afinal a república viveu um período militar que culminou com forte repressão contra os que faziam oposição ao presidente-marechal. Muita gente morreu em confronto como o exército. Os tempos são outros agora a corrida para o palácio presidencial se dá através de eleições e os apoiadores podem escolher em quem votar.
É verdade que a disputa está marcada com uma tonalidade diferente uma vez que um candidato é civil e seu opositor é um militar da reserva do exército. Não passa pela cabeça de ninguém que o processo eleitoral possa ser violento, ou que um golpe de estado esteja sendo urdido para fraudar de alguma forma a eleição. Ninguém esquece o período da ditadura militar e a forma rude com que o poder foi passado para um civil.
O candidato civil inova. Sai pelo Brasil à fora em busca de um diálogo direto com a população. Quebra uma tradição de fazer campanha apenas em banquetes com as oligarquias estaduais e entrevistas para órgãos de comunicação de cartas marcadas. Caravanas são organizadas espontaneamente. A estratégia é percorrer todas as região brasileiras e mobilizar o eleitorado com comícios, encontros, caminhadas cívicas, palestras e outras iniciativas.
Tudo isso é uma novidade e deixa o candidato opositor restrito à campanha tradicional. Nunca se estabeleceu uma força política tão poderosa na república em torno do nome de um candidato civil. As críticas ao candidato militar remontam à época que as forças armadas estiveram no controle da nação e não resolveram os angustiantes problemas pelos quais o pais passa.
Educação precária, ausência de saneamento, falta de uma organização do trabalho, ordenamento para a exploração dos recursos naturais, só para listar os problemas mais urgentes. Obviamente a lista não para aí. O candidato civil tem base política principalmente em São Paulo, a unidade da federação mais rica. Com suas andanças conquista o apoio de outras regiões, entre elas do nordeste, uma vez que é nascido lá e se orgulha disso em todos os atos de campanha.
Não esconde, sequer, o seu sotaque nordestino. Os controladores de sua campanha eleitoral focam nos centros urbanos e no apoio da região nordeste, completamente alijada do controle dos destinos da república. Com isso se isola principalmente os oligarcas proprietários de terras que, sem outra opção, apoiam a candidatura do militar aposentado. De um lado um civil, de outro um militar. Este é o principal embate da eleição presidencial.
Por isso os apoiadores do baiano carimbam sua ação como Campanha Civilista. Fica claro que há uma divisão no país, mais do que isso, uma tentativa de indispor civis contra militares, da ativa ou não. Mas o baixinho, bigodudo, grande orador, aclamado pela juventude universitária, com obras publicadas no exterior não se intimida. Rui Barbosa peita o Marechal Hermes.
Este, com o apoio das oligarquias rurais vence a eleição e se torna presidente do Brasil em 1910.
(*) – É editor-chefe e âncora do Jornal da Record News.