É um tanto paradoxal: enquanto 11,8 milhões de pessoas procuram emprego no Brasil (IBGE – 3.º trimestre de 2019), a área de Tecnologia da Informação (TI) deverá ter, até o ano de 2024, 290 mil vagas em aberto (estudo da Brasscom), com falta de profissionais qualificados para preenchê-las. O salário médio desses trabalhadores é de R$ 4 mil (um gerente pode ganhar mais que o triplo), além de ser uma área que não sofreu com a crise. Continuou ampliando e contratando. Mas se é uma área tão promissora, por que não há profissionais suficientes para as vagas em aberto? Esse foi um dos temas discutidos no Hackathon de Carreiras da Universidade Positivo (UP) – versão TI, realizado no último dia 30 de novembro, em Curitiba.
Adriano Krzyuy, presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-PR), explica que a maioria dos profissionais disponíveis acha que está bem qualificada. No entanto, ele adverte que a área de tecnologia vem mudando numa velocidade alta e os profissionais não têm acompanhado as atualizações. “Neste momento, eu estou aqui conversando com você, mas não sei o que os chineses estão inventando ou que software os americanos estão desenvolvendo. O grande desafio é manter-se em constante atualização e se qualificando”, diagnostica.
Conforme Krzyuy, há demanda para mais eventos como o Hackathon de Carreiras da UP, especificamente na área de TI, como foi o último, que colocou frente a frente profissionais em busca de recolocação e empresas que necessitam desses especialistas. Com a inteligência artificial, a internet das coisas e a massificação dos aplicativos para celular, ou a transformação digital como um todo, a demanda por profissionais de TI também deu um salto e necessita das mais variadas especializações. “Há vagas para desenvolvedores de software, suporte técnico, infraestrutura, analista de sistemas, entre muitos outros”, analisa Krzyuy.
Concorrência
Kristian Capeline, coordenador-geral do Centro de Tecnologia da Informação (CTI), da Universidade Positivo, conta que a universidade recebeu perto de 2.200 inscrições para o Hackathon, bem acima da expectativa. Dessas, 600 pessoas foram selecionadas para o evento, a partir de testes que fizeram em casa e pitchs em áudios que mandaram. O material foi analisado e selecionado por psicólogos e profissionais de TI.
O estudante universitário Matheus de Lara Raimundo, 23 anos, foi um dos participantes do Hackathon. Ele conta que se inscreveu mais pela curiosidade de ver como funcionava a dinâmica do evento. Mas a participação lhe rendeu vários contatos e o estudante do penúltimo ano de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) saiu de lá com uma oportunidade de emprego. “Foi um dia de muito aprendizado. Valeu muito a pena. Já em seguida ao evento recebi o telefonema de uma empresa, me pedindo mais detalhes do meu currículo. Estou aguardando um posicionamento”, diz ele.
Apesar da graduação de Matheus não ser exatamente na área de informática, ele já entendeu que o seu curso tem várias ramificações que levam à Tecnologia da Informação – e as duas áreas serão cada vez mais correlatas no futuro. “Esse gatilho foi o que me fez pensar nesta área e participar do evento”, diz o estudante, que já pensa em fazer alguma pós-graduação ou mestrado na área de TI, assim que se formar na Engenharia.
“Em todo o Paraná, contando todos os cursos de TI, cerca de dois mil alunos se formam por ano. Entre os alunos do CTI, a taxa de empregabilidade está em 92%. Atualmente, só o CTI, em Curitiba, possui cerca de 2 mil alunos. Então, não faria sentido fazermos um evento voltado apenas para alunos ou profissionais daqui. Seria chover no molhado. Por isso, priorizamos quem não é da área e quem é de fora do Paraná. E vieram pessoas bem qualificadas. Um terço delas não era da área de TI”, analisou Kristian. A Universidade ainda deu uma ajuda de custo de R$ 150 para pessoas que moram a mais de 150 quilômetros de Curitiba. O número de empresas interessadas em participar do Hackathon também foi alto e não foi possível absorver todas.
Qual a formação?
O Paraná possui 15 mil vagas de trabalho em aberto na área de TI – somente em Curitiba são cerca de 6 mil. O levantamento é da Assespro. Já o Brasil, até o ano de 2024, terá 420 mil vagas à espera de profissionais qualificados e será difícil encontrá-los. Porém, apenas 46 mil pessoas se formam por ano (ensino superior) com o perfil necessário para atender a demanda. Existem atualmente 845 mil empregos no setor, no Brasil. A maioria (42,9%) está concentrada em São Paulo. O estudo é da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), divulgado na metade do ano.
O coordenador do CTI da UP ressalta que, para trabalhar na área, o profissional não precisa ser necessariamente formado em informática – que possui dezenas de cursos diferentes -, mas um curso de pós-graduação na área é importante. Há setores que demandam, por exemplo, engenheiros, jornalistas, advogados, psicólogos etc, mas que entendam de TI.
“A pessoa pode ter outra formação e fazer uma pós-graduação em TI. Mas também há áreas de trabalho que estão surgindo, como a Inteligência Artificial e a Ciência de Dados, que daqui dois ou três anos demandarão muita mão de obra. A graduação na área também será fundamental. Já chegamos no momento que, com seis meses de bacharelado, os alunos começam a ser contratados, tamanha a demanda. Sairá na frente quem começar a estudar agora”, analisa Kristian.
A demanda por estes profissionais de TI está ficando tão alta que, conforme o coordenador, no Hackathon anterior, já na semana depois do evento, as empresas começaram a entrar em contato com os candidatos. Nesta última edição, que ocorreu num sábado, os recrutadores já começaram a entrar em contato com os candidatos participantes no domingo, com receio de chegar a segunda-feira e perder o candidato para outra empresa.