Juliano Costa (*)
A aprendizagem é inerente ao ser humano desde o seu nascimento.
Um conjunto de competências, habilidades, conhecimentos, comportamentos e valores começa a ser formado logo no primeiro momento de vida, e se desenvolve de maneira constante e permanente. Existe um senso comum de que o processo de aprender “de verdade”, “oficial”, se encerra quando o jovem adulto conclui o Ensino Médio ou a faculdade, tendo em mãos um certificado que lhe garante aptidão para atuar no mercado de trabalho.
Um olhar cuidadoso sobre a realidade, no entanto, mostra que essa mentalidade está ficando para trás. Uma pesquisa divulgada este ano pela Pearson, que ouviu 11 mil pessoas com idades entre 16 e 70 anos em 19 países, mostrou que a maioria das pessoas acha importante continuar estudando na vida adulta e acredita que esse é um caminho fundamental para progredir na carreira.
Entre os brasileiros, por exemplo, 88% concordaram com a afirmação de que a educação não termina na escola, e de que as pessoas precisam continuar aprendendo ao longo de suas carreiras para permanecerem atualizadas. E eles estão corretos.
Em um mercado cada vez mais competitivo e em acelerada transformação, em que a inovação tecnológica e outras tendências provocam mudanças a todo instante, as pessoas se deparam com novos desafios constantemente. Quem está mais preparado para lidar com esses desafios é, em geral, quem está mais atualizado, e não quem preferiu se apegar a um diploma ou conjunto de conhecimentos conquistado anos atrás.
Nesse cenário, ganha cada vez mais força o conceito de lifelong learning (aprendizagem ao longo de toda a vida), assim como o de “conhecimento via streaming” (em fluxo constante) ao invés do “conhecimento em storage” (acumulado). Felizmente, tudo indica que estamos acordando para essa nova realidade. A pesquisa mostrou que dois terços dos brasileiros empregados têm buscado se requalificar nos últimos dois anos, em resposta a transformações ocorridas em seus trabalhos desde que eles começaram a exercê-los.
Eles estão fazendo cursos de curta duração, treinamentos oferecidos pelos empregadores ou por associações profissionais, cursos de ensino superior ou aprendendo por conta própria. A proporção de brasileiros se requalificando é maior que as de países desenvolvidos como Estados Unidos (31%) e Reino Unido (24%). É interessante também notar que 45% dos brasileiros pertencentes a esse grupo se requalificaram por meio de cursos e treinamentos oferecidos por seus empregadores ou por uma associação profissional.
É um número que aponta para a importância de que as empresas busquem, cada vez mais, investir no desenvolvimento de seu pessoal. Mesmo porque não há como esperar que seus profissionais – e, consequentemente, seu negócio – estejam preparados para os desafios dos próximos anos se você não abre caminho para que essa preparação aconteça.
Se não for por meio de treinamentos internos, que seja com apoio financeiro para cursos externos, ou com flexibilização de horários de trabalho para que o colaborador possa estudar, entre outras possibilidades. Está claro que as pessoas têm vontade e consciência de que é necessário continuar aprendendo sempre.
Diante dessa constatação, é necessário pensar em como criar condições para que elas possam aprender cada vez mais. Empresas, universidades, sistemas educacionais, governos e instituições precisam entrar de vez na era do lifelong learning.
É assim que nós, como sociedade, estaremos prontos para os desafios do futuro.
(*) – É vice-presidente de Educação da Pearson no Brasil.