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Recessão, má gestão e comércio eletrônico afetam a venda de livros

em Especial
terça-feira, 16 de abril de 2019
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Recessão, má gestão e comércio eletrônico afetam a venda de livros

As vendas de livros no Brasil caíram 18% em volume e 19% (valor) na comparação entre o primeiro bimestre de 2018 e de 2019

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A recessão e o baixo crescimento econômico visto em 2017 e 2018 afetaram o comportamento dos consumidores. Foto: Wilson Dias/ABr

 

Gilberto Costa/Agência Brasil

No período, a queda de venda dos livros escolares foi pior: diminuição de 43% em volume e 38% em valor. Os dados são do 1º Painel das Vendas de Livros no Brasil, feito pela consultora Nielsen Bookscan e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Conforme o painel, em 2018, o crescimento do volume de vendas foi de 1,32% (44,3 milhões de exemplares) e no valor 4,59% (faturamento total de R$ 1,86 bilhão). O ano passado foi marcado pelo pedido de recuperação judicial de duas grandes redes varejistas, além do encerramento de atividades no Brasil de uma cadeia de megastore francesa para venda de livros, CDs, jogos eletrônicos e aparelhos eletrônicos.

O presidente da Câmara Brasileira de Livros (CBL), Vitor Tavares, disse que o setor livreiro “vive crises”, no plural. Segundo ele, a recessão e o baixo crescimento econômico visto em 2017 e 2018 afetaram o comportamento dos consumidores. “As pessoas vão cortando consumo. O livro passa a ser considerado algo que pode esperar”.

Além da economia, Tavares assinala as mudanças no negócio, impactado com a venda na internet e pelos custos de manutenção de grandes lojas em shoppings. Também considera que a venda de livros no Brasil é limitada pela falta do hábito de leitura. “Somos um país de não-leitores”, lamenta.

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O Dia Nacional do Livro Infantil é comemorada no dia 18 de abril, em homenagem ao dia do nascimento do escritor Monteiro Lobato. Foto: Arquivo/ABr

 

A visão do presidente da CBL é compartilhada por especialistas e já foi verificada em mais de uma edição da pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’. De acordo com Zoara Falia, coordenadora do levantamento, 70% dos brasileiros admitiram não ter lido um livro inteiro por vontade própria nos três meses antes da pesquisa. Trinta por cento dos entrevistados declararam nunca ter comprado um livro em qualquer momento da vida.

Conforme Vitor Tavares, o impedimento da compra de livros não está no preço dos títulos. “A desculpa do preço é inerente à falta de hábito de leitura”. Em meados de 2018, a Nielsen Bookscan calculava que o preço médio do livro era de R$ 34. O gasto com livros é baixo em todas as faixas de renda familiar. Entre aqueles com rendimento de até dois salários mínimos, a despesa com “livros didáticos e revistas técnicas” foi de 0,1%, o mesmo percentual de gastos com “periódicos, livros e revistas não didáticas”.

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A exposição ‘Monteiro Lobato: o Homem, os Livros’, que estará aberta ao público até 18 de julho. Ilustração: Alunos Online – Uol

No outro extremo, quem recebia mais de 25 salários mínimos, o dispêndio com livros didáticos e revistas técnicas também era de 0,1%. Enquanto que o gasto com periódicos, livros e revistas não didáticas chegou a 0,4%. Conforme o site do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, há 6.057 bibliotecas em todo o país, faltando ainda instalar em 112 cidades (dado de 2016). Apesar da quase universalização nos municípios, as bibliotecas não são utilizadas por grande parte da população, aponta Zoara.

“As pessoas percebem a biblioteca para estudantes e para pesquisa, não um espaço cultural aberto à toda a população. Não percebem que ali encontram literatura que possa interessar”, analisa a especialista ao comentar que “a escola não desperta o gosto pela leitura. A leitura acontece por forma obrigatória, isso não consegue atrair”. “O hábito de leitura vem de casa ou vem da escola”, concorda Mansur Bassit, ex-secretário de Economia da Cultura. Lembra que, em tempos de smartphone e internet, a atenção das pessoas está sempre em disputa. No caso dos estudantes, é preciso reforçar a preparação de docentes para essa realidade.

A secretária executiva do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), Renata Costa, assinala que “o mercado editorial está mais aberto e voltado para as políticas públicas”. Os programas de aquisição de livros didáticos e paradidáticos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) “democratizam o acesso livro” e “aquecem o mercado”. Este ano, o FNDE deve gastar mais de R$ 1,1 bilhão com a aquisição de 126 mil livros para atendimento aos professores da educação infantil e a todos os estudantes e professores dos anos iniciais do ensino fundamenta.

Outro programa governamental que viabiliza o aumento do consumo de livros é o programa Vale-Cultura, que entre 2013 e 2018, resultou no gasto de meio bilhão de reais em cultura entre trabalhadores empregados com carteira assinada. De acordo com base de dados do Ministério da Cidadania, 65% do valor (R$ 336 mil) foram gastos com aquisição de livros, jornais e revistas.

Começaram as comemorações do Dia Nacional do Livro Infantil

Alana Gandra/Agência Brasil

As comemorativas do ‘Dia Nacional do Livro Infantil’ começaram na segunda-feira (15). A data é comemorada amanhã (18), escolhida em homenagem ao dia do nascimento do escritor Monteiro Lobato, autor dos personagens do universo do Sítio do Picapau Amarelo e de clássicos como Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho, A Menina do Nariz Arrebitado e Emília no País da Gramática.

No Centro Cultural Light, no Rio de Janeiro, as comemorações do ‘Dia Nacional do Livro Infantil’ começaram com a ação Viva o Livro, que propõe a valorização da leitura e o desenvolvimento de novos leitores e escritores. A atividade tem não só a leitura de livros infantis para o público, mas também mostra toda as partes que compõem um livro: capa, contracapa, título, autor ou autora, ilustrador ou ilustradora. Após essas apresentações, ocorrerão contações para o público.

Amanhã (18), o Centro vai reunir o público agendado e espontâneo para que os visitantes possam criar um pequeno livro ou livreto, a partir da experiência que tiveram, ou a partir de uma experiência marcante que tiveram com a leitura de um livro. “Não há tema específico. A gente deixa [as pessoas] bem à vontade para não cercear a imaginação do nosso visitante. A proposta vai ao encontro desse passeio que ele teve e do que mais o marcou, ou foi mais marcante a partir da leitura de um livro”, disse o educador Rodrigo Fernandes, do Programa Educativo Cultural Light.

No ano em que a obra do escritor Monteiro Lobato caiu em domínio público, a Biblioteca Nacional (BN), também no Rio, inaugura hoje (17) a exposição ‘Monteiro Lobato: o Homem, os Livros’, que estará aberta ao público até 18 de julho. A exposição tem curadoria da bibliotecária Ana Merege e da coordenadora de Difusão Cultural da BN, Veronica Lessa. A presidente da BN, Helena Severo, disse que Monteiro Lobato está presente na memória de várias gerações de brasileiros. “Mais do que homenagear, a proposta da exposição busca resgatar a memória literária de Monteiro Lobato através da disponibilização do vasto acervo da Biblioteca Nacional”.