Luís Fernando Lopes (*)
A palavra esperança vem do latim spes, que significa confiança em algo positivo.
É um conceito, uma crença emocional, que se manifesta em maneiras de ser, estar e agir no mundo. Dito de outra maneira, ela se traduz em modos de vida. Viver é também esperar, mas esperar com disposição para realizar todos os esforções possíveis a fim de que o esperado se concretize. A esperança ativa não é simples espera. É uma “paciência inquieta”, um silêncio eloquente, pensamento e ação consciente.
Já o avesso da esperança é o desespero. No entanto, mesmo situações desesperadoras podem conduzir a um novo esperar. É possível falar de uma esperança puramente passiva, mas essa maneira de compreendê-la, bem como o modo de vida que dela decorre, é contraditório. Por que esperar por algo que nunca se concretizará? Estar cheio de esperança implica também em agir para o que é esperado se efetive.
Embora não seja um tema comumente abordado na história da filosofia, a esperança é essencialmente filosófica. Não por acaso, entre as famosas perguntas kantianas, está presente a questão: o que me é permitido esperar? Nas edições da Crítica da Razão Pura de 1781 e 1787, o autor escreveu: “Todo o interesse da minha razão (tanto especulativa quanto prática) concentra-se nas seguintes três perguntas: O que posso eu saber? O que devo eu fazer? O que está me permitido esperar?”.
Desta maneira é possível notar como a questão da esperança é inerente ao ser humano, ainda que para alguns ela possa ser vista como uma crença vaga que impede a humanidade de buscar sua realização de maneira concreta. Nesse sentido, ela induziria a um estado de esperar um futuro improvável. Sobretudo se essa espera estiver ancorada em bases religiosas e relacionada com uma nova vida além-mundo.
Não por acaso a esperança é vista como um tema teológico, pois ela é uma das três virtudes teologais, junto com a fé e a caridade. No entanto, isso não impossibilita a abordagem filosófica do tema.
Em sua principal obra, O Princípio da Esperança, Ernst Bloch propôs uma ontologia do não ser. O autor defende que a ausência de algo não significa a sua inexistência, mas sim uma possibilidade do que pode vir a ser.
Trata-se então de passar do “não” para o “ainda não”, que se faz pela esperança. Nesta perspectiva, sua abordagem sobre a esperança fundamenta-se em razões históricas e antropológicas. Não precisa recorrer aos fundamentos religiosos de uma determinada tradição ou ainda a argumentos individuais de ordem puramente psicológica.
As perspectivas religiosa e histórica da esperança não precisam ser vistas como polos opostos, mas complementares. Afirmar um fundamento antropológico e histórico para a esperança não significa descartar o fundamento religioso. Nesse sentido, o próprio texto bíblico atesta a superioridade do amor em relação à fé e à esperança: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor” (1 Cor 13:13).
(*) – É filósofo, teólogo e coordenador do curso de licenciatura em Filosofia do Centro Universitário Internacional Uninter.