Lesão no treino físico não leva a aumento de massa muscular
‘No pain, no gain’ (sem dor, sem ganho) é uma frase comum entre quem faz musculação, pois o dano é considerado essencial para o aumento de massa muscular
A pesquisa investigou se o dano muscular induzido pelo treinamento de força (com pesos) tem algum papel na hipertrofia muscular (aumento da área muscular). Foto: Jeevanreddy007/Wikimedia Commons |
Júlio Bernardes/Jornal da USP
Porém, uma pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP mostra que não há relação entre lesões no treino e crescimento dos músculos. Eles vão crescer apenas com o aumento da síntese proteica após a redução das lesões no decorrer do treinamento. O estudo de doutorado de Felipe Damas recebeu menção honrosa na área de Ciências da Saúde do Prêmio Tese Destaque USP 2018.
O dano muscular (ou microlesões adaptativas na musculatura) envolve também perda de função muscular no curto prazo e dor tardia na musculatura pós-treino. “A pesquisa investigou se o dano muscular induzido pelo treinamento de força (com pesos) tem algum papel na hipertrofia muscular (aumento da área muscular)”, explica Damas, “ou seja, se o dano seria o processo que explicaria como nossos músculos crescem com o treinamento de força ou se ao menos potencializa o processo de crescimento muscular”.
Segundo o pesquisador, até recentemente acreditava-se, tanto no meio acadêmico, mas ainda mais fortemente entre treinadores e praticantes de treinamento de força, que o dano muscular seria o processo por trás do crescimento dos músculos com o treino. “Essa crença se intensificou com o ditado no pain, no gain, ou seja, sem dor, sem ganho”, conta. “A pesquisa trouxe informações que refutam essa premissa, demonstrando que o dano muscular não é o processo que explica a hipertrofia muscular, nem mesmo a potencializa.”
O treinamento de força pode ser iniciado com exercícios que causem menos dano muscular, aumentando a intensidade conforme os danos diminuem no decorrer do treino. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens |
Avaliação
O estudo avaliou dez homens jovens que realizaram treinamento de força durante dez semanas. “Todas as variáveis envolvidas na pesquisa – taxa de síntese proteica, dano muscular e hipertrofia muscular – foram medidas no começo, na terceira e na última semana de treino”, destaca Damas. “Com isso, pudemos avaliar como estas medidas variam no decorrer do treinamento e as relações entre elas”.
A taxa de síntese proteica, que mostra o quanto de proteína está sendo incorporado na musculatura no decorrer do tempo, foi avaliada por meio de biópsias musculares, coletas de saliva e ingestão de água pesada. “O dano muscular foi verificado por meio de marcador direto (microlesões presentes nas biópsias musculares) e marcadores indiretos (perda de força muscular, aumento de dor tardia, alguns marcadores sanguíneos de lesão e inflamação), relata o pesquisador. “A hipertrofia muscular foi apontada por meio da área das fibras musculares (também nas biópsias musculares) e análise da área de secção transversa muscular por ultrassom.”
Os resultados da pesquisa indicam que o dano muscular faz com que a taxa de síntese de proteínas seja utilizada para reparar o tecido muscular, e não para fazê-lo crescer. “Somente quando o dano muscular é progressivamente diminuído, o que acontece com o passar das sessões de treino, é que a síntese de proteínas é ‘liberada’ para contribuir com a hipertrofia muscular”, ressalta Damas. “Desta forma, o dano parece impedir que o músculo cresça, e só quando o dano é atenuado ou mesmo inexistente, a taxa de síntese de proteínas é direcionada para aumentar a área muscular (hipertrofia muscular). Ou seja, sem dor, com ganho!”.
Treinamento
Com base nas conclusões do estudo, treinadores e praticantes de treinamento de força podem modular melhor seus treinos, segundo o pesquisador. “Por exemplo, eles podem começar nas primeiras semanas com treinos mais ‘leves’, não necessariamente só em termos de intensidade ou peso, mas que não acarretem tanto dano muscular, como contrações concêntricas ou isométricas isoladas, baixo volume de treino, etc.”, diz. “O interessante é que o dano é rapidamente atenuado no decorrer do treino (em duas semanas já há pouquíssimo dano) e o praticante pode treinar ‘forte’, sem problemas, que a hipertrofia irá acontecer.”
“Um detalhe: o fato do dano muscular não explicar ou potencializar a hipertrofia, não quer dizer que não temos que treinar ‘forte’, ou seja, com alto grau de esforço e fadiga”, alerta o pesquisador. “Só indica que não precisamos sentir dor muscular para hipertrofiar, podendo começar ‘leve’, evitando tanto dano e dor, para nas próximas semanas treinar com altos graus de esforço e fadiga que maximizarão a hipertrofia muscular no médio e longo prazo”.
A atividade física organizada não apenas aumenta a independência, autoestima Foto: R7 Meu Estilo |
A importância do esporte e da fisioterapia para pessoas com deficiência
Fabiana Maurano Pinelli (*)
Em dezembro, é celebrado anualmente o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.
Apesar de grandes progressos nos últimos anos, muitos ainda travam uma batalha diária contra preconceitos, falta de acessibilidade e até mesmo contra seus próprios corpos. Neste último quesito, o acompanhamento de um fisioterapeuta e atividades físicas são imprescindíveis para ajudar o indivíduo a alcançar todo seu potencial funcional, garantindo autonomia e uma maior qualidade de vida.
A terapia física é parte integral da rotina de um grande número de pessoas com deficiência. Em um primeiro momento, por exemplo na infância ou após o surgimento dos primeiros sintomas, as atividades focam em necessidades básicas e diárias, como o cuidado com a higiene pessoal, a alimentação, o deslocamento para evitar ferimentos e até mesmo o manejo adequado de cadeira de rodas, quando necessário.
É apenas depois deste aprendizado que o indivíduo, agora com mais autoconfiança, inicia a reinserção na sociedade e pode até buscar a recuperação de movimentos motores e a melhora das funções vitais, de acordo com sua deficiência. Neste processo, a tecnologia pode se tornar uma grande aliada. É o caso, por exemplo, da hidroterapia, que utiliza uma piscina e motores a jato para proporcionar não apenas mais relaxamento, como também melhorias de força e condicionamento físico.
Outro bom exemplo é a gameterapia, que promove a reabilitação motora com o uso de jogos com realidade virtual. Existem também softwares bastante interessantes para pessoas com deficiência, como o Headmouse, aplicativo espanhol que permite que o cursor do mouse de computadores seja controlado apenas com a movimentação da cabeça.
O esporte é também um grande parceiro de pessoas com deficiência. A atividade física organizada não apenas aumenta a independência, autoestima e autonomia do indivíduo como também estimula o corpo e a mente de maneiras que podem auxiliar na reabilitação. Diversas entidades, como a ADD (Associação Desportiva para Deficientes) e a CPB (Confederação Paralímpica Brasileira) oferecem programas de iniciação ao esporte e oportunidades para praticar diferentes modalidades, como o basquete em cadeira de rodas, o tênis de mesa e a bocha.
A prática de esportes e o acompanhamento fisioterapêutico são imperativos para a vida saudável de qualquer um. Quando tratamos de pessoas com deficiências, porém, a necessidade só aumenta. Porém, é necessário lembrar que todo tratamento deve ser recomendado por um médico especializado e que conheça bem o histórico do paciente.
Cada pessoa vive com sua diferente deficiência e, assim, cada um terá um tratamento individualizado. Procure o esporte e a fisioterapia que se encaixe com você, sua rotina e vontades, e veja quanto sua qualidade de vida cresce exponencialmente.
(*) – É fisioterapeuta do HSANP, centro hospitalar da Zona Norte de São Paulo.