Bayard Galvão (*)
Pela primeira vez, em 18 anos de profissão, tenho recebido de maneira intensa e frequente queixas de pacientes por discussões entre familiares, amigos, casais e colegas de trabalho sobre política.
São três as razões básicas para tanto:
1. Ignorância/engano e vaidade – É normal que duas ou mais pessoas discutam apenas por um ou outro não conhecer e/ou estar mal informado sobre os candidatos, suas histórias, suas alianças e propostas políticas atuais, bastando buscar as informações reais e mudar ou confirmar as suas posições. No geral, uma vez que se tenha uma compreensão acerca destes pontos, comumente concordam na decisão. Por outro lado, há de se levar em conta que não são poucas as vezes que um indivíduo continua defendendo a sua opinião, já avaliada por ele como errada, apenas para não admitir a sua falta ou falha;
2. Princípios morais diferentes ou opostos – Política é o conjunto de propostas e referências para a construção de uma sociedade, ou seja, grande parte da fundação da política é a moral de cada um, que é justamente o conjunto de regras que as pessoas tomam para si sobre a maneira correta de como viver. É bastante difícil pessoas que tenham morais muito diferentes gostarem do convívio. Você conseguiria conviver tranquilamente com uma pessoa que viu o dinheiro cair do bolso de alguém que não percebeu e pegá-lo, sorrindo e dizendo “achado não é roubado!”;
3. Imposição prática sobre o outro de alteração na vida por causa do político escolhido – Caso um candidato seja a favor do aumento de ministérios e o outro seja a favor da diminuição dos mesmos, a tendência é que no primeiro haja um aumento de gastos políticos, dificultando a diminuição de impostos, sem necessariamente aumentar a eficiência; e no outro, há a possibilidade de ser feito o mesmo trabalho com menos dinheiro, facilitando a diminuição dos impostos, possibilitando diretamente a diminuição do preço de produtos e aumentando a capacidade de consumo do cidadão.
Portanto, uma divergência de moral pode implicar num tipo de construção de deveres ou direitos que o outro discorda; como no caso de um candidato afirmar que a família de um assassino tem o direito a receber dinheiro quando este estiver encarcerado; e o outro tem a proposta oposta de dar este dinheiro à família da vítima e não do assassino.
Independentemente de qual for a posição das pessoas envolvidas na discussão, a primeira regra é o respeito entre elas. Infelizmente, durante e após o questionamento de ambos, é possível um afastamento entre as pessoas, seja temporário ou não, até porque pode haver diferenças morais entre elas, aplicáveis na prática da vida do outro ou não, que sejam aceitáveis e outras não.
(*) – É psicólogo clínico, hipnoterapeuta e palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia. Autor de cinco livros, é criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e presidente do Instituto Milton H. Erickson (www.institutobayardgalvao.com.br).