Será que fui claro?
* J. B. Oliveira
Essa pergunta deveria ser frequentemente feita por quem se comunica. Escrevendo ou falando…
Há três “Ces” que são imprescindíveis em qualquer tipo de comunicação: Concisão, Coerência e Clareza.
Concisão é a arte de “falar pouco e dizer muito”. É a virtude que algumas pessoas possuem de escolher e aplicar tão bem as palavras que, com umas poucas, consegue fazer-se compreender. Para isso, basta usar o vocábulo certo, o termo unívoco, isto é, que tem um só significado, não se confundindo com outros.
No curso de Oratória que ministrei recentemente em Palmas, no Tocantins, disse aos alunos que eu queria que me fornecessem um objeto metálico, que tem uma extremidade oblonga ou obovoide, corpo afilado e a outra extremidade serrilhada ou denteada. De imediato, alguém ofereceu um serrote. Como disse que não era o que eu queria, outros objetos vieram à baila: garfo, faca, tesoura, chave de fenda…
Esgotadas – sem sucesso – as tentativas, fiz na lousa o desenho da peça, seguindo os termos da descrição: um objeto metálico, que tem uma extremidade oblonga ou obovoide, corpo afilado e a outra extremidade serrilhada ou denteada. A reação unânime foi:
– “Por que você não disse apenas que o que queria era chave?” Teria sido muito mais fácil!
– “Porque não me lembrei dessa palavra”, foi a desculpa esfarrapada que dei. Claro que não foi
o que de fato ocorreu. Foi apenas uma ilustração para gravar o ensinamento.
O que transpareceu claramente é que o desconhecimento da palavra unívoca leva à necessidade do emprego de palavras equívocas, ou seja, quem não têm sentido único e admitem variações e interpretações. Leva também ao alongamento da frase, gerando o que se chama circunlóquio, caracterizado pelo excesso de palavras. Outro detalhe para o qual chamei a atenção: os termos raros, de uso não frequente, aumentam a dificuldade de assimilação da mensagem. Quem é que usa normalmente palavras como “oblongo”, “obovoide” e “afilado”?
O episódio lembra o caso do senhorzinho calvo, nariz adunco, suportando óculos de aros pesados, que chega ao balcão da farmácia e pede:
– “Por favor, eu quero um comprimido de ácido acetilsalicílico”!
– “Ah! Melhoral?!” Responde prontamente o balconista.
– “Isso. Não consigo lembrar esse nome!”
Coerência, por sua vez, resume-se a falar “coisa com coisa”, a não misturar “alhos com bugalhos”, como muitas pessoas fazem, mudando frequentemente, em sua conversa, de “pato pra ganso”. É o que se chama desconexão verbal: quem está falando não mantém sequência lógica e encadeada de assuntos e com isso não só cria confusão na mente de quem supostamente a está ouvindo, como o consequente desinteresse do interlocutor ou do público. Para consertar esse mal, basta lembrar que toda expressão – curta ou longa – deve ter: início, meio e fim! Nessa ordem! Começou um assunto? Leve-o até o fim, antes de dar início a outro. Faça a “amarração” entre os pontos sobre os quais está discorrendo!
Clareza, por fim, nada mais é do que “falar e ser entendido”! Pode parecer incrível, mas não faltam por aí aquelas pessoas que falam e ninguém as entende.
“Necessária e indispensável, clareza demanda alguns cuidados nas áreas física, fisiológica, fonética, vocabular e cultural. De início, é importante que se fale com boa postura física, com o corpo ereto, de modo a deixar o diafragma livre e sem tensão. A seguir, desenvolver respiração correta, inspirando profundamente – pelo nariz – para manter os pulmões abastecidos de ar, o que permitirá manter boa tonalidade da voz até o fim da frase, evitando que o som venha a cair, a “morrer” (tonalidade descendente), tornando-se inaudível.
Outro cuidado elementar é abrir bem a boca para falar. Há pessoas que falam de boca semicerrada, dificultando o entendimento de suas palavras, ou então não as pronunciam por inteiro, suprimindo fonemas e sílabas”. (J. B. Oliveira, em “Boas Dicas para Boas Falas”, Editora JBO).
Para concluir, devemos agregar o cuidado singelo de prestar atenção à própria fala! Será que estou sendo coerente? Estou usando os termos certos? Estou falando no tom, timbre e ritmo corretos? Enfim: será que estou sendo claro?
*J. B. Oliveira, consultor de empresas, é advogado, jornalista, professor e escritor.
É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Cristã de Letras.
www.jboliveira.com.br – [email protected]