Domingos Monteiro (*)
É comum ouvir que dados são o novo petróleo do mundo. É exatamente isso. Na antiga Babilônia, na atual região do Iraque, ele brotava do solo e ninguém sabia o que fazer com aquilo.
Foi no final do século IXX, quando se iniciou o processo de refino, que o querosene e a gasolina começaram a substituir o óleo de baleia, na iluminação, e o carvão na combustão de motores para, como fazem até hoje, fazer o mundo girar. Como na Babilônia antiga, dados brotam, só que não apenas do solo. Segundo levantamento da consultoria EMC,o volume mundial de dados deve atingir 40.000 Exabytes, ou 40 trilhões de Gigabytes em 2020.
Hoje, a cada dia, é gerado um volume superior ao que a humanidade produziu do seu início até 2003. Como o petróleo, dados podem não servir para nada ou, se transformados em poderosas decisões, fazerem o mundo girar. Os dados que mais se proliferam hoje têm as mais diversas origens e formatos. As fontes mais ricas estão abertas na internet. Surgem de forma desestruturada. A colheita dessas informações se dá por meio de uma tecnologia nova, o Big Data. É algo sobre o qual poucos entendem.
São matéria-prima que, trabalhadas, podem revelar preferências e valores de determinados grupos, de quaisquer lugares do planeta, a forma como consomem, como se comportam, quanto gastam e no que, de produtos e serviços à forma como gostariam de serem abordados. Por ser uma tecnologia nova, poucos sabem do que se trata. Todos ouviram falar em Big Data, mas quase ninguém sabe o que realmente é. Por conta disso, é comum empresas adotarem soluções legadas achando que estão utilizando o Big Data.
Por exemplo, a análise dos dados coletados em sistemas internos e armazenados em banco de dados em uma corporação ou em um determinado ambiente limitado e em formatos de tabelas é a versão anterior da tecnologia. É o Data Mining. Muito útil, mas, da mesma forma que sua fonte de dados e sua capacidade analítica, também é limitada a visão parcial de mundo capturada internamente nas organizações. Enfim, não se pode achar que Data Mining e Big Data são a mesma coisa, pois não são.
O Data Mining – mineração de dados – combina duas áreas da ciência da computação: a de banco de dados com a área da inteligência artificial. Esta tecnologia demanda dados estruturados e hoje, os dados crescem exponencialmente no mundo de forma não-estruturada. As empresas descobrem rapidamente seus limites, ao conseguirem analisar apenas o que têm dentro de casa, onde estão apenas parte de seus consumidores, e ainda sobre aqueles que já conhecem, apenas os conhecem parcialmente.
Há um universo de dados surgindo em tempo real, em todos os lugares e nos mais diversos formatos. É aí que entra o Big Data. Basicamente, a tecnologia consiste no uso de dezenas de milhares de robôs que buscam informações abertas na internet, possibilitando a identificação de milhões de variáveis, que apontam tendências, hábitos e preferências. Por meio do uso de inteligência artificial, pode ser usado para prever o futuro de uma forma mais precisa e melhorar a tomada de decisão dentro das organizações.
Seguradoras valem-se dessa solução. Até pouco tempo atrás, ao vender uma apólice, sabiam apenas se o indivíduo era bom pagador – informação dada pelos bureaux de crédito – onde morava, trabalhava e seu histórico de sinistros registrados em bases compartilhadas pelo setor. Já o problema de roubo e furto, que toma, em média, 30% da margem das seguradoras na América Latina, não conseguia ser mensurado de forma precisa apenas com bases nestas informações.
Com o Big Data, o cruzamento de informações permite, em minutos, precificar o risco, com uma performance cinco vezes superior às dos meios tradicionais. A tecnologia também serve para inserir milhões de pessoas no consumo. Mais da metade da população economicamente ativa do país está negativada nos bureaux de crédito e, como essa era a fonte única de informações que norteava a concessão, esse público ficava impedido de obter um financiamento ou um empréstimo.
O Big Data dá acesso a outras informações sobre essas pessoas, para que se conheça seus hábitos, a fim de saber se elas poderão honrar novos compromissos. Isso insere novos consumidores no mercado, amplia as vendas e gera empregos. Varejistas também podem, com base no perfil de consumo na loja, identificar quais clientes estariam propensos a aceitar uma oferta de um produto financeiro (por exemplo, um cartão de crédito da loja).
Este é um ponto que evidencia os benefícios da tecnologia para a sociedade. Sem crédito, o PIB se limitaria a massa salarial mais a massa de vendas à vista. Há países em que o crédito supera 150% do PIB. Ou seja, além da riqueza gerada no ano presente, tem-se um ano e meio de riqueza futura no trazida ao presente.
É o que viabiliza, por exemplo, a indústria imobiliária, já que os valores financiados podem representar vários anos da renda do comprador.
(*) – É CEO da Neurotech.