Daniel Schnaider (*)
O Brasil é um país de desequilíbrios. O que é crime para um não é para o outro. Duas empresas exatamente do mesmo ramo têm cargas tributárias distintas.
Mas o assunto aqui é outro. Quanto se fala no Brasil das leis trabalhistas, de CLT, de direitos, férias e sindicatos. Muito né? Não quero tirar o mérito desses assuntos, são sim muito importantes, mas… No Brasil são aproximadamente 40 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Em contraste, temos 48 milhões de donos de empresas, empreendedores.
Quem cuida deles? Eles não têm proteção de sindicato, partido político e nem “juiz do empreendedor”. Férias é se der, plano de saúde apenas se for bem sucedido, horas extras é praxe e não se ganha mais por isso, adicional de fim de semana é apenas piada. “Mas é a escolha deles” grita o indignado. Bem, quase 50% são empreendedores por necessidade, ou seja, não encontrarão alternativa se não empreenderem.
“Mas empresário faz grana, tira dividendos” diz o cético. A retirada máxima de 70% dos empreendedores é de apenas três salários mínimos, não é exatamente o paralelo do “sonho americano”, você concorda? Existe uma diferença importante entre o celetista e o empreendedor. Ao passar do processo de empregado para empreendedor e, em seguida, para empresário, ele gera emprego, além de criar riqueza, pagar impostos, atender demandas reprimidas da sociedade, e quem sabe, apoiar programas sociais.
A globalização e tecnologia melhoraram e vão continuar melhorando – acredito eu – a vida de bilhões de pessoas. Mas alguns milhões de pessoas serão o efeito colateral desta tendência. Elas irão sofrer perdendo seus empregos e sua dignidade. A máxima de que novos empregos irão surgir, não será consolo para eles, mas talvez para a geração jovem. Esses novos desempregados transformar-se-ão em empreendedores pela necessidade de sobrevivência.
Mas não seria possível culpar apenas questões externas. Existem desafios internos e estruturais. Como exemplo, enquanto um funcionário que trabalha um mês e recebe seu salário por isso, o pequeno e médio empreendedor às vezes espera 120 ou mais dias depois de entregue o serviço ou produto para receber sua devida remuneração. Nesta perspectiva, o empreendedor com todos os riscos pessoais que deve assumir, e por outro lado com a função social primordial de gerar empregos, é transformado em um cidadão de segunda classe.
Não podemos esquecer que atrás de um CNPJ existem CPFs que precisam colocar comida na mesa e pagar diversas contas como qualquer outro cidadão. Então, por que isso acontece? Vejo algumas causas que geram o desequilíbrio: 1. Existem fornecedores com alto poder de barganha; 2. Os pequenos e médios empresários na maioria dos casos não se organizam em grupos coesos; 3. A legislação favorece as grandes empresas que têm alto poder de lobby; 4. Os gigantes têm vantagens na automação, robotização e uso de inteligência artificial.
Talvez esteja na hora de criar uma plataforma que venha dar aos empreendedores (pequenos e médios), uma chance justa para vencer, como também difundir na sociedade sua importância e finalmente criar um novo balanço de forças onde uma grande parcela possa prosperar.
Um futuro de inovação e tecnologia não poderá se tornar sustentável se o padrão for de dar as costas para seus perdedores. Afinal, algum dia esta pessoa pode ser você, seus pais ou seus filhos! Qual é a forma? Qual é a solução? Não sei. Mas acredito saber de onde ela não virá inicialmente – dos governantes!
O sistema político atual não está preparado para mudanças sociais tão rápidas e disruptivas como as que vivemos hoje. Será a iniciativa privada com ou sem fins lucrativos que terá que preencher esta lacuna.
Tenho certeza que devemos criar um equilíbrio, onde o sucesso meteórico de alguns, não deixe outros grupos desamparados de um direito básico, o do emprego.
Acontece que já hoje, e se fortalece a cada dia que passa, emprego e empreendedorismo são sinônimos.
(*) – É Economista, especialista em alavancar negócios e palestra sobre ‘O Futuro da Liderança e do Emprego em tempos de Globalização e Inteligência Artificial’.